segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Ciclo "Árvores e Poesia" - VII


This solitary Tree! a living thing
Produced too slowly ever to decay;
Of form and aspect too magnificent
To be destroyed.

William Wordsworth, Yardley Oak

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Felicidade

Deve ser feliz, quem está lá dentro...

Em boa verdade, só se é feliz na nostalgia. Num duradouro estado de nostalgia. Na memória de bem estar pré-natal que a imagem evoca - deve estar calorzinho à lareira , alguém nos protege, a porta entreaberta....

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Que espanto! Onde fica?

Deparei-me recentemente com esta (e outras ) imagem que me impressionou por um misto de estranheza e familiaridade. Dos Balcãs à China, passando pelas Astúrias talvez, a sua localização era imprevisível. As outras imagens (uma ponte suspensa por cordas) ainda mais ajudaram ao mistério.

Alguém saberá dizer-me onde fica?
(inquérito disfarçado aos frequentadores da página...)
Emailem para
marioricca@iol.pt

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Vivemos no “Maelström” ?

Antes de Edgar Poe, ninguém tinha ouvido falar do Maelström. Foi com a publicação de “A Descent into the Maelström” em 1841 que a palavra norueguesa se tornou conhecida com o significado de torvelinho, redemoinho ou turbilhão, referindo-se a uma zona muito agitada pelas marés entre duas ilhas do arquipélago Lofoten na Noruega, a 67°48′N 12°50′E / 67.8, 12.833: as ilhas Værøy e Mosken. (ver http://www.slideshare.net/marioricca/lofoten-archipelago-presentation/) .
Moskstraumen = Moskentraumen= corrente da [ilha] Mosken. Criado o mito, chegou-se a proporções desmesuradas de uma espécie de funil em turbilhão de que nenhum barco poderia escapar, um gigantesco vórtice circular que mergulha até ao fundo do oceano.

Dez anos depois de Poe , é Herman Melville que põe o Captain Ahab a jurar dar caça a Moby Dick até ao fim do mundo, “mesmo à volta do Maelström , se tiver que ser”.
Também em Julio Verne se encontram referências , nas “20000 léguas submarinas” de 1870, como um redemoinho de que barco algum consegue escapar, onde Nemo finge precipitar o Nautilus.
Em 2007, a animação Disney “filma” uma batalha naval na vizinhança de um monstruoso maelstrom - “Pirates of the Caribbean: At World’s End”.

Mas a culpa não é de Poe. Em 1539 um bispo sueco em Roma desenhou um mapa em que descreve o maelstrom como “uma força tão poderosa como uma torrente súbita correndo montanha abaixo (… ) navegar neste mar é extremamente perigoso porque um barco seria subitamente sugado para o fundo de um abismo rodopiando em espiral”.

Em 1791 o americano Henry Livingstone descreveu no New York Magazine as suas observações do fenómeno: “na maré vaza o mar recua com uma violência e ruído que superam as mais fortes cataratas.” “formam um vórtice de grande profundidade e extensão, tão violento que qualquer embarcação que se aproxime será irresistivelmente atraída para o turbilhão, e desaparecerá, só sendo visível na nova maré vaza, desfeita em fragmentos.”

Livingstone, ainda não satisfeito, continua com uma tragédia sucedida 5 anos antes: depois do casamento do conde de Herndale, os convivas foram surpreendidos no regresso por um golpe de vento que trouxe uma maré súbita: “O rugido do mortífero golfo cresceu mais e mais, a lancha já está perto da maré em turbulência, capaz de captar um navio e fazê-lo rodopiar 100 vezes em torno do vórtice antes de o rebentar. (...) Por um momento o barco esteve na berma do tenebroso declive, girou, mergulhou no túmulo e sob o seu troar ouviram-se gritos e – nada mais.”

Já não se escrevem história assim, mas é fácil imaginar Poe deliciado, noite fora, com este “jornalismo” sobre as Ilhas Lofoten .

O Moskenstraumen, como é designado localmente, é bastante poderoso mas não passa de uma corrente de maré, conjunção das fortes correntes que atravessam o estreito de Mosken e a grande amplitude das marés. Nunca sugou um barco inteiro, pode talvez afogar um nadador desprevenido. Actualmemte até há visitas turísticas em pequenas embarcações.
Em 1977 investigadores da Universidade de Oslo, fartos de especulação demencial, construiram um modelo dinâmico das marés locais. Concluíram que há uma frente de maré de 6 Km de largura que se desloca à velocidade de 0,1 m/s ! Nada de assustador (http://www.math.uio.no/maelstrom/ ). É como uma torrente marítima, uma coisa impressionante e ameaçadora mas pouco perigosa.

Um Maelström é o que faz rodopiar agora o mundo dito globalizado, e parece que vivemos num torvelinho em que andamos à roda, cada vez mais acelerados para um negro vórtice, uma descida aos infernos onde ninguém sabe o que nos espera.

Mas não será , tal como o de Poe, afinal uma bem inofensiva correntezinha de maré que só atrapalha uns poucos incautos? Impressionante, ameaçadora, mas pouco perigosa ? Não será uma invenção insana e demencial de “poetas” que afinal lucram à fartura com o clima gerado pelo terror do dramático e revoltoso naufrágio?


Escrevia Poe, nas palavras do narrador, que "quanto maiores eram mais depressa se afundavam". Estamos a assistir ao colapso de alguns grandes. Não estarão os pequenos fora de perigo com um pequeno esforço?

Never shall I forget the sensations of awe, horror, and admiration with which I gazed about me. The boat appeared to be hanging, as if by magic, midway down, upon the interior surface of a funnel vast in circumference, prodigious in depth, and whose perfectly smooth sides might have been mistaken for ebony, but for the bewildering rapidity with which they spun around, and for the gleaming and ghastly radiance they shot forth, as the rays of the full moon, from that circular rift amid the clouds which I have already described, streamed in a flood of golden glory along the black walls, and far away down into the inmost recesses of the abyss.
Edgar Allan Poe

(imagens do actual Moskenstraumen no slideshow das ilhas Lofoten)

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Natalie Dessay - Tornami a Vagheggiar

Fantástica ária da Alcina de Handel dirigida em Junho de 1999 na Ópera de Paris por William Christie.



Quando canto e teatro vivem a uma só voz, a ópera atinge o seu esplendor.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

As Ilhas Lofoten


As Ilhas Lofoten (Noruega)
Lofoten é um aquipélago no Norte da Noruega, à laititude 65- 68º, a Norte do Círculo Polar Ártico.

As ilhas Lofoten são uma obra prima rconhecida pela UNESCO: portos e aldeias de encanto irresistível, montanhas e picos esculpidos por glaciares e caindo a pique sobre o os fiordes, ou reflectidos no mar de um azul tropical, enseadas calmas de margens cobertas de verde, espantosas praias selvagens, largas áreas de natureza virgem, casinhas de pescadores vermelhas, brancas e amarelas hamoniosamente integradas num cenário tão belo quanto estranho e agreste.

Vivem lá uns 24500 habitantes. Há mais de 1000 anos que é um grande centro piscatório de Inverno, quando o bacalhau vindo do Mar de Barents se desloca para o norte das Lofoten para a desova.

Slideshow em
http://www.slideshare.net/marioricca/lofoten-archipelago-presentation/
.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Meteoro a 20 de Novembro

Câmara filma queda de meteoro em Edmonton, Canadá:




Observam-se dois fenómenos porque o meteoro se partiu em dois; por triangulação espera-se encontrar o local de queda e vestígios do meteoro, provavelmente parte de um cometa ou asteróide.

Entretanto, chegam fotografias extraordinárias da Estação Espacial, onde a tripulação do Endeavour tem trabalhado.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Ciclo "Árvores e Poesia" - VI


Der Lindenbaum
Wilhelm Müller, 1822 (1794-1827)

Am Brunnen vor dem Tore Da steht ein Lindenbaum
Ich träumt in seinem Schatten
So manchen süßen Traum
Ich schnitt in seine Rinde
So manches liebe Wort
Es zog in Freud und Leide
Zu ihm mich immer fort

Ich musst auch heute wandern
Vorbei in tiefer Nacht
Da hab ich noch im Dunkeln
Die Augen zugemacht
Und seine Zweige rauschten
Als riefen sie mir zu
Komm her zu mir Geselle
Hier find'st du deine Ruh

Die kalten Winde bliesen
Mir grad ins Angesicht
Der Hut flog mir vom Kopfe
Ich wendete mich nicht
Nun bin ich manche Stunde
Entfernt von jenem Ort
Und immer hör ich's rauschen
Du fändest Ruhe dort

A Tília

Junto à fonte, perto do arco,
Encontra-se uma tília.
Sonhei, na sua sombra,
Um sonho doce.
No seu tronco,
Escrevi palavras de amor.
Alegre ou triste,
Sempre fui arrastado até ela.

Também hoje lá passei,
Durante a noite,
E mesmo na escuridão
Cerraram-se-me os olhos.
Os seus ramos sussurravam,
Como se me chamassem:
Vem até mim, companheiro.
Aqui, encontras o teu sossego.

Os ventos sopravam,
Gelavam-me o rosto.
O meu chapéu voou
Mas eu não me voltei.
Já estou há algum tempo
Longe daquele lugar.
E ainda ouço um sussurro:
Lá encontrarias o teu sossego.

Schubert -- "der Lindenbaum"

Dietrich Fischer-Dieskau, baritone
Gerald Moore, piano
Filmed in London, May 14, 1959

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Mural do Grande Hotel da Figueira

AS QUATRO ESTAÇÕES

Primavera

Verão

Outono


Inverno


Este mural, só conhecido de quem frequenta o Hotel, bem merecia mais divulgação.

José Antonio Molina Sánchez nasceu em Murcia, em 1918.

Tem obra exposta no

Museu de Arte Moderna de Lisboa.
Museu Machado de Castro de Coimbra.
Museu Soares de Reis do Porto.
Museu de Evora.

Além de pinturas murais, tem obra extensa em aguarela, guache, carvão e óleo.

sábado, 15 de novembro de 2008

A Memória do Elefante

Tantos anos que já lá vão...

Era uma vez um jornal alternativo de música com pressupostos contestatários entre o anarca e o maoísta...

Era uma vez um jornal BONITO, com uma paginação criativa, um sorriso permanente à esquerda e artigos entre o extra-erudito e o puro delírio, entre o ganzado e o surreal, entre a pateada forte e a aclamação entusiática...

Como é que coisa tão extravagante saiu em 1971/74 e morreu para sempre? Como se explica que nunca mais nada do género tenha surgido?

Tenho saudades da Memória do Elefante. Aquele esquerdismo cego mas generoso não faria sentido hoje, mas o essencial da coisa - gente que escrevia sobre música com paixão e séria ironia - seria benvindo no charco da crítica musical enfadonha e submissa que hoje temos.

A Memória do Elefante [Porto, nº 1, 1971- nº 13, 1974 (?)]

Jornal de Música Popular, Jazz, Rádio, com origem na cidade do Porto, saiu ente 1971 e 1974, com direcção de Joaquim Lobo, Editor Jorge de Morais, Relações Públicas João Afonso Almeida, Supervisão de Pedro Nunes, colaboração de António José Fonseca, Mário Gonçalves, Octávio da Fonseca e Silva, Jorge Lima Barreto, Pedro Proença, António Barredo Oliveira, Renato Silva, ...

"A Memória do Elefante tem sido e continua a ser por enquanto, um trabalho quase só de amadores não remunerados cuja acção procura concretizar um ideal de crítica. Estamos alheios aos jogos de interesses que orientam, subrepticiamente ou não, muitos representantes da nossa informação profissional (orgulhosamente). Os nossos redactores não têm obrigação de, como último recurso de incapacidade, encher umas quantas folhas de papel com as futilidades mais incríveis da vida mundana de personalidades pseudo-importantes do nosso putrefacto meio artístico, precisamente as personalidades «progressistas» (ah! ah!) que conduzem à recuperação da contra-cultura. A Memória do Elefante não é de, nem para escatófagos (...)"

[A Memória do Elefante, nº 11, Janeiro de 1974]

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

JÁ ESTAVA TUDO DITO no séc XVI





Recomendações dos Jesuítas para a boa qualidade do ensino:


Ratio Studiorum de 1586/B
Preservar a boa disposição dos professores

“Nada deve ser mais importante nem mais desejável (…) do que preservar a boa disposição dos professores (…). É nisso que reside o maior segredo do bom funcionamento das escolas (…).”
“Com amargura de espírito, os professores não poderão prestar um bom serviço, nem responder convenientemente às [suas] obrigações.”

Recomenda-se a todos os professores um dia de repouso semanal: “A solicitude por parte dos superiores anima muito os súbditos e reconforta-os no trabalho.” “Quando um professor desempenha o seu ministério com zelo e diligência, não seja esse o pretexto para o sobrecarregar ainda mais e o manter por mais tempo naquele encargo. De outro modo os professores começarão a desempenhar os seus deveres com mais indiferença e negligência, para que não lhes suceda o mesmo.

“Em meses alternados, pelo menos, o reitor deverá chamar os professores (…) e perguntar-lhes-á, com benevolência, se lhes falta alguma coisa, se algo os impede de avançar nos estudos e outras coisas do género. Isto se aplique não só com todos os professores em geral, nas reuniões habituais, mas também com cada um em particular, a fim de que o reitor possa dar-lhes mais livremente sinais da sua benevolência, e eles próprios possam confessar as suas necessidades, com maior liberdade e confiança.

Todas estas coisas concorrem grandemente para o amor e a união dos mestres com o seu superior. Além disso, o superior tem assim possibilidade de fazer com maior proveito algum reparo aos professores, se disso houver necessidade.”

Ratio Studiorum (1599)"I. 20.
Manter o entusiasmo dos professores

O reitor terá o cuidado de estimular o entusiasmo dos professores com diligência e com religiosa afeição. Evite que eles sejam demasiado sobrecarregados pelos trabalhos domésticos.

Ratio Studiorum da Companhia de Jesus (1599).
Regime escolar e curriculum de estudos.
Edição bilingue Latim-Português.
Introdução, versão e notas por Margarida Miranda.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Música intemporal

Händel divinamente interpretado

Do Palais des Beaux-Arts (Bruxelles), Magdalena Kozena canta "Dopo notte, atra e funesta" da ópera Ariodante de Händel com a Orchestra Barocca di Venezia conduzida por Andrea Marcon.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Porta


Dizem que hoje se abriu uma porta. Bem, fechar não fechou. Mas parece-me uma porta velhinha e gasta, talvez com tesouros escondidos, mais provavelmente com entulho na escuridão e alguns ratos.

Há expectativa, não esperança. Expectativa receosa. Segurança, nenhuma. Mudança, para onde? Luzinha ao fundo, quem dera.

Como em qualquer aventura. Vale a pena (etc etc) mesmo que seja um fiasco.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Ler e Reler: Música constante


"An Equal Music", de Vikram Seth

Uma história outonal, de murmúrios e silêncios, música e paraísos perdidos, onde a beleza pura é personagem permanente - nos apontamentos onde se a música se "ouve", nas pinturas minuciosas e de cores quentes com cenário em Londres, Veneza ou (em forma inesperada) Viena  - através um daqueles enredos que permanecem para sempre na nossa memória, sinal de um verdadeiro clássico.


De leitura mais difícil para quem não frequenta a música clássica, a prosa de Seth canta e dança, página após página, as ilusões e desencantos da paixão do Homem. Um livro que é também uma obra prima de música.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Outonal

Caem as folhas mortas sobre o lago;
Na penumbra outonal, não sei quem tece
As rendas do silêncio… Olha, anoitece!
- Brumas longínquas do País do Vago…

Veludos a ondear… Mistério mago…
Encantamento… A hora que não esquece,
A luz que a pouco e pouco desfalece,
Que lança em mim a bênção dum afago…

Outono dos crepúsculos doirados,
De púrpuras, damascos e brocados!
- Vestes a terra inteira de esplendor!

Outono das tardinhas silenciosas,
Das magníficas noites voluptuosas
Em que eu soluço a delirar de amor…

(Florbela Espanca, «Charneca em Flor», in «Poesia Completa»)

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Spectaculum II


Orion, a mais bela constelação, com a gigante vermelha Betelgeuse (esq. baixo) e a supergigante Rigel (dta. cima) , as estrelas mais brilhantes, e a famosa nebulosa de Orion no centro da "espada" - avermelhada e turva porque não é uma estrela mas sim uma maternidade de estrelas.

domingo, 12 de outubro de 2008

Spectaculum


Sábio é o que se contenta com o espectáculo do mundo.
(Ricardo Reis)


O mundo está certamente rico e variado de spectaculum. Vale a pena sentar num banquinho , à sombra, a vê-lo passar frenético de variedade.

Ou, firmes e sobranceiros como a árvore, deixá-lo correr à nossa volta, oferecendo quado muito o nosso abrigo dos excessos de luz e vento.

Ou ainda, voltando-nos para a herança sólida do passado, revê-la sob nova e surpreendente luz.

É o que acontece com as 9 sinfonias de Beethoven na interpretação de David Zinman e da orquestra Tonhalle de Zurique, que finalmente (8 anos de atraso!) ouvi na íntegra. É um choque.
Há 20 anos, teria gritado barbaridade, o homem é um troglodita. "Toda a gente" sabe que os tempi indicados nos manuscritos de Beethoven eram impossíveis, já as orquestras da época, suando e arfando, recusavam executar semelhante loucura. No palco, seguiam com atraso descompassado a regência de Beethoven - um desastre.

Depois dos estudos históricos de mestres como Gardiner, Harnoncourt, Hogwood, Norrington, aos poucos as orquestras com instrumentos da época (ou não) e opções agógicas de rigor e respeito pelo autor e pela época vinham-se aproximando do que eventualmente Beethoven tinha em mente.

Mas agora chegou a versão "pura e dura": o metrónomo respeitado integralmente, a velocidade vertiginosa, mas também o detalhe e precisão estonteantes, a revelação de frases e acentuações nunca ouvidas, um uso incrivelente fluido do arco, enfim - uma revelação, sim , mas...

... difícil de aceitar como novo paradigma ou refêrencia. É um banho de água fresca retemperante , mas sabe bem voltar ao calor de Kleiber, ou Wand, ouKlemperer por exemplo - há pausa, "poise", gravitas, ênfase, contemplação que em Zinman estão ausentes.

Zinman descobre, entusiasma, irrita, contagia - mas cansa. A orquestra toca como nunca ouvi, fenomenal como um relógio suíço topo de gama ao qual se juntasse uma delicadeza e sensibilidade finíssima , num todo que é de cortar o fôlego. Só que Beethoven fica como que "reduzido" a um quase barroquismo. rico de contrapontos, melodias sobrepostas, sopros hipervalorizados e cordas minimais, secas, de belo timbre mas sem vibratos nem legatos, e duma brusquidão e horror ao vácuo (silêncio) excessivos e brutais.

Um génio, o maestro David Zinman. Precursor, trilhador de novos caminhos, estudioso e trabalhador incansável, tal como a orquestra de Zurique ! Agradeço o esforço e o fantástico resultado, vou ter mais uma alternativa aos velhos valores tradicionais que nunca deixarei...

NOTAS:
- Zinman é o mesmo que há uns anos gravou uma excelente 3ª de Gorecki, um sucesso!

- A rádio France Classique, que ouço quase continuamente em prejuízo da nossa péssima Antena 2, quase só passa as versões de Zinman! E também nas Aberturas (Egmont, Fidelio, Leonora, etc.).

- A consultar: http://query.nytimes.com/gst/fullpage.html?res=9B0DE0D61F39F93AA25751C0A961948260

sábado, 11 de outubro de 2008

Ciclo Árvores e Poesia - V


O chestnut-tree, great-rooted blossomer,
Are you the leaf, the blossom or the bole?
O body swayed to music, O brightening glance,
How can we know the dancer from the dance?

William Butler Yeats
"Among School Children"



sábado, 4 de outubro de 2008

"EM ÓRBITA": OS MELHORES DE 1970

Em 1965, o “Rádio Clube Português” começa a transmitir, a 1 de Abril, o programa "Em Órbita", realizado por Jorge Gil, e produzido por Jorge Gil, Pedro Albergaria, Diogo Saraiva e Sousa e João Alexandre. "O gosto cria-se" (como a qualidade que reúne todas as outras) e a procura de novas formas de "dizer radiofónico", constituem as duas linhas onde se inscreve toda a vida do "Em Órbita". Os apresentadores foram, ao longo dos tempos: Pedro Castelo, Cândido Mota, Jorge Dias, Jaime Fernandes, Fernando Quinas e João David Nunes.

O "Em Órbita" foi meu companheiro imprescindível da adolescência, e, talvez mais que a escola, o meu professor de gosto musical e de exigência crítica .

Trancrevo a classificação e os respectivos comentários da equipa do programa para os 15 melhores temas de 1970.

15 - “Nothing That I Didn’t Know” (Procol Harum) Os Procol Harum perderam no ano transacto um dos mais fortes argumentos da sua personalidade aquando da saída de Matthew Fisher. A inclusão de “Nothing That I Didn’t Know” no número das melhores gravações de 1970 é contudo o reconhecer das inegáveis qualidades de um grupo intransigente que não tem cedido aos caprichos da moda. Uma gravação que denuncia o rigor de um conjunto de músicos que tem vindo a explorar até à exaustão um estilo muito próprio.

14 - “The Game Is Over” (John Denver) Sem dispôr de uma capacidade inovadora fora do comum, John Denver conquistou-se, no decurso de 1970, para o grupo dos que melhor defendem as intenções deste programa. “The Game Is Over” vem reafirmar a crença numa música popular despida de artifícios falaciosos, cortina de espesso fumo deitada sobre a incapacidade de motivar o que é belo.

13 – “Peace Frog” (The Doors) Os Doors continuam a compor um dos mais polémicos agrupamentos de hoje. Praticamente duma forma desencantada de música popular, amantes do desequilíbrio, da violência e da provocação, as suas criações assumem, desde os primeiros dias, as proporções dum interminável combate. “Peace Frog” é o mais representativo trabalho dos Doors do ano findo.

12 – “Lucretia Mac Evil” (Blood, Sweat And Tears) Blood, Sweat and Tears, um grupo onde a justeza de execução se sobrepõe às demais qualidades. “Lucretia Mac Evil” exemplo das suas melhores produções, enferma do defeito único de se fechar num esquema formal onde as hipóteses de progresso são quase nulas. O futuro dos Blood, Sweat and Tears fecha-se nos limites do previsível. “Lucretia Mac Evil”: uma gravação perfeita saída do trabalho de músicos de craveira excepcional.

11 – “The Only Living Boy In New York” (Simon & Garfunkel) Simon & Garfunkel, têm dado às histórias de “Em Órbita” muitos dos seus mais significativos momentos. “The Only Living Boy In New York” renova em cada uma das suas imagens o universo singular e actuante de Paul Simon, um criador de excepção. Estamos em presença de duas figuras que constituem, de facto, o mais definitivo argumento de qualidade da música popular dos nossos dias. “The Only Living Boy In New York” é um acto de bom gosto.

10 – “Make Me Smile” (Chicago) Sem enfermar do senão apontado aos Blood, Sweat and Tears, o Chicago aparece-nos como um grupo versátil, na plena posse de um género que lhe pertence. “Make Me Smile” é um dos quantos exemplos que poderiam figurar nesta lista. Mostruário das suas potencialidades, é ainda o revelar de uma fé sem limites na música que praticam. 9 – “With You There To Help Me” (Jethro Tull) Jethro Tull: quatro personalidades das mais fortes, juntas na prática duma forma única de música popular. “With You There To Help Me”, amostra impertinente do trabalho deste grupo, é bem a continuação lógica, mas não repetida, de tudo o que vinham prometendo. Executantes de grande brilho, constituem uma das mais categóricas afirmações de vanguarda de hoje. “With You There To Help Me”: um desafio de originalidade.

8 – “Crazy Man Michael” (Fairport Convention) No sentir belo do que é frágil surpreendem-se as realizações de Sandy Denny. Ainda quando nos Fairport Convention, o aparecimento de “Crazy Man Michael” veio renovar as certezas já sentidas nesta intérprete. É uma canção feita de momentos livres, onde não se esconde o gosto por um tema de amor. “Crazy Man Michael” foi uma das melhores criações do agora decadente grupo Fairport Convention.

7 – “Curry Land” (Donovan) Donovan continua a aiscender em momentos de envolvente beleza. Dotado de uma sensbilidade fora do comum, todas as suas criações se revestem de uma ternura quase não possível. “Curry Land” é o continuar do que já fora contado em “Atlantis”. Cântico mágico, onde o sagrado e o profano se interpenetram na ânsia de um êxtase.

6 – “Friends” (Led Zeppelin) Nas regiões mais remotas de insondáveis abismos se consome a força criadora dos Led Zeppelin. Profetas de futuras revoluções sonoras, eles celebram a mutação deste tempo. Os Led Zeppelin são atmosferas onde se respira o diabólico, o desconhecido, o estremecer sombrio das grandes trevas.

5 – “Sixty Years On” (Elton John) “Sixty Years On” trouxe às histórias do ano findo, o nome de um intérprete seguro, empenhado no redescobrir de sonoridades tidas como ultrapassadas. Os temas de Elton John, saídos de uma concepção quase comum, mostram-se como reservas de inesgotável prazer auditivo. “Sixty Years On” é exemplo das intenções deste autor. Numa prolongada e dramática evocação de violencelos introduz-se um grupo de imagens rico de sugestões poéticas e sonoras, sabor amargo de um paraíso muito cedo perdido. “Sixty Years On” é uma das mais belas construções musicais do ano 1970.

4 – “The Way I Feel” (Fotheringay) “The Way I Feel”, foi uma das mais saudáveis manifestações de juventude de 1970. Um registo cuidado onde tudo se articula na precisão dum mecanismo de vanguarda. Elaborado nas fronteiras que separam o tradicional do popular, “The Way I Feel” é um tema que cresce no estrépito dum galope arrebatador.

3 – “Almost Cut My Hair” (Crosby, Stills, Nash & Young) “Almost Cut My Hair” prolonga a sobrevivência da sempre querida herança deixada pelos Byrds e Buffalo Springfield. Ecoar duma tradição ainda tida como presente, é o quebrar violento de uma tensão emocional há muito retida. Um tema de sugestões contraditórias, onde se confundem desespero, ternura e um mal explicado travo de angústia. Dave Crosby tem aqui a mais importante das suas criações.

2 – “Fire And Rain” (James Taylor) “Fire and Rain” é um dos mais encontrados temas dos últimos anos. Proposto num esquema de extrema simplicidade, é contudo uma gravação repleta de pormenores de interesse, donde se liberta a frescura do gesto espontâneo.

1 – “Bridge Over Troubled Water” (Simon & Garfunkel) A melhor gravação de 1970, apaixonada revisão de valores, é o desenterrar solene de um quase perdido sentido de pureza. Um desenho simples, esboço não acabado, recusa do sentimento subvertido ao desencanto. Atmosfera de rigor sagrado, memória distante transportada pelo eco dos abismos do tempo, revoar de asas mortas rejuvenescidas no Abrigo do Absoluto. Reencontro de emoções esquecidas, “Bridge Over Troubled Water”, é a melhor gravação de 1970.

Ainda segundo o programa “Em Órbita” “In The Summertime”, dos Mungo Jerry, foi considerada a pior gravação de 1970. E cito: «Uma completa manifestação de incapacidade criadora, que assume um carácter particularmente perigoso dada a forma quase científica como explora o instinto deseducado dos que não sabem tomar opções.»

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Neste Blog

Neste Blog, não é de esperar a chamada espuma dos dias.
Neste Blog, não vai haver casos de tribunal, futebol, politicazeca, misérias de alma e de corpo.

Por isso, não há aqui lugar para debates sobre temas mundanos ou triviais, efémeros ou irrelevantes, nem para a subcultura da mediocridade e da vulgaridade.

A pateada é a mais saudável atitude face a todo esse mundo ordinário que nos é apresentado quotidianamente. Será acerrimamente defendida aqui. Buuuu! para a vulagaridade, Buuu! para a irrelevância, Buuu! para a mediocridade e a mundanidade...

A aclamação de pé será reservada àquelas formas de civilização e cultura, raras, que trazem marca sublime e merecem posteridade.

Daí que neste Blog se poste pouco, preferindo bem. Daí a tendência para lugares de devaneio, poesia, as sublimes, seculares e amigas árvores, a música de autor, os astros e as aventuras do Homem...

Difícil de manter ? Não espero outra coisa.

"pulga da areia"

Ilhas Faröe de novo








Ainda a propósito das Ilhas Faröe: está disponível para download este Slideshow (62 Mb) em:

http://www.slideshare.net/marioricca/fare-islands-presentation/

domingo, 28 de setembro de 2008

Ciclo árvores e poesia - IV


Árvore, cujo pomo, belo e brando

Árvore, cujo pomo, belo e brando,
natureza de leite e sangue pinta,
onde a pureza, de vergonha tinta,
está virgíneas faces imitando;
...
nunca da ira e do vento, que arrancando
os troncos vão, o teu injúria sinta;
nem por malícia de ar te seja extinta
a cor, que está teu fruito debuxando.
...
Que pois me emprestas doce e idóneo abrigo
a meu contentamento, e favoreces
com teu suave cheiro minha glória,

se não te celebrar como mereces,
cantando-te, sequer farei contigo
doce, nos casos tristes, a memória.

Luís Vaz de Camões

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

As fantásticas Ilhas Faröe

As Faröe (Foroyar = ilhas das ovelhas) são um arquipélago de 18 ilhas montanhosas, de vegetação rasteira e falésias selvagens, entre a Escócia e a Islândia; pertencem ao reino da Dinamarca mas têem autonomia legislativa, sobretudo na economia..

Escolheram não ser parte da União Europeia, mas organizam a sua economia de pesca em articulação com a Gronelândia e a Dinamarca.

Com uma população de 48500 numa área de 1700 Km 2 (mais que a Madeira, menos que os Açores), estão agora a ser descobertas por viajantes e turistas: a sua beleza agreste, estranha e arrepiante, sugestiva de um mundo de fantasia, é propícia ao isolamento, à frugalidade e à contemplação. Mas sendo uma região da Dinamarca tem evidentemente um excelente nível de vida, com acesso a serviços e comodidades normais na Europa.

As minúsculas aldeias de casinhas coloridas cobertas de relva, as lindíssimas capelas localizadas em sítios fabulosos, as quedas de água invulgares, as falésias e rochedos de formas peculiares, as inacreditáveis estradas serpenteando por fiordes, túneis, pontes, vales e arribas sobre o mar, são os atractivos maiores desse bocado de terra ainda mal conhecido.

http://www.faroeislands.dk/pages/index.htm

http://www.exploringfaroes.com/

http://www.faroeislands.com/

domingo, 21 de setembro de 2008

O cafezinho



Aprecio um bom café, sobretudo pela manhã ou no fim do almoço; é um desconsolo descobrir na chávena uma coisa sem espuma nem gosto, morna ou azeda, ou com aquele sabor a queimado das misturas fracas ou aldrabadas.

Aos poucos fui criando hábitos de marca e de local. Não há dúvida que os melhores cafés do mundo são em Itália. Apetece tomá-los em catadupa, comparar sabores... mas atenção: há umas 20 ou mais designações, que são difíceis para um estrangeiro. Correspondem, por exemplo, ao nosso café curto, normal, comprido, cheio, com muita ou pouca espuma, com cheirinho, com natas, em chávena grande (americano), duplo, forte, fraco... um inferno para quem só conheça copos de plástico e Starbucks.

A seguir a Itália, arrisco afirmar que Portugal é o 2º melhor sítio para tomar um bom café. Muito à frente de Espanha ou França (claro que me refiro a locais públicos normais, e não a cafetarias selectas de hotel ou sala de concerto...). Também, como se depreende da lista anterior, não faltam cá variações no modo café. A minha preferida é o requinte sádico do café a 3/4 , mas ainda há o compridinho, o quase cheio...

Mesmo assim, o fracasso ainda é imprevisível e grandemente provável. Por isso um primeiro critério passa pela marca do café. Aqui vai o meu Top das marcas de café, sendo que só os níveis 1 e 2 dão alguma garantia prévia:

O meu Top de marcas de café:

1 - Delta Diamante

.....Musetti
.....Lavazza
.....Bogani

2 - Delta Ruby
.....Illy

.....Nicola

3 - Christina

.....Sical
.....Buondi
.....Segafredo

4 - 
Sanzala

Desclassificados : Torrié, Camelo, Bicafé, Candelas


Mais do que o vinho ou a cerveja, o prazer de tomar café depende do modo como é servido na chávena. Não hesito em protestar que um café está mal tirado, ou não está como o pedi. Devia ser criado o hábito de aplauso ou pateada. a ver se se generalizava um grau mínimo de exigência...

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

O REIZINHO



Um cartoon que saía no Primeiro de Janeiro dos domingos, nos anos 60, da autoria de Otto Soglow (23/12/1900 - 1975, USA).

"The Little King" foi a personagem que o tornou mais conhecido, tendo sido publicado regularmente como tira em jornais americanos e europeus.

Ciclo árvores e poesia - III


Tree at my window

Tree at my window, window tree,
My sash is lowered when night comes on;
But let there never be curtain drawn
Between you and me.

Vague dream-head lifted out of the ground,
And thing next most diffuse to cloud,
Not all your light tongues talking aloud
Could be profound.

But tree, I have seen you taken and tossed,
And if you have seen me when I slept,
You have seen me when I was taken and swept
And all but lost.

That day she put our heads together,
Fate had her imagination about her,
Your head so much concerned with outer,
Mine with inner, weather.

Robert Frost

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Ler e Reler: O castelo dos Cárpatos


O CASTELO DOS CÁRPATOS
Jules Verne
(sem tradução portuguesa)

Perto de Werst, na Transilvânia, o castelo dos Cárpatos está abandonado; circulam fantasias e boatos delirantes. Um dia o guarda florestal Nic Deck e o doutor Patak partem para tirar a limpo o que lá se passa, e são surpreendidos por fenómenos estranhos. Mais tarde, o conde Franz de Telek , em viagem de luto pela região, decide visitar o castelo. E o que descobre é que, afinal...

Um conto modelar, talvez o seu melhor, em que Jules Verne faz prova de mestre da literatura fantástica. Com a gostosa mais valia da referência inesperada ao ambiente musical - operático - da época.


O que estou a ouvir :



Beethoven / Mendelssohn: Violin Concertos


Para além da excelente gravação, com uma sonoridade soberba: o rigor e a perfeição sem mácula da Mullova (falta paixão? talvez...) e a direcção fabulosa de Gardiner, no seu melhor, com uma precisão, impacto e capacidade de renovação interpretativa irresistíveis, mesmo se polémicas - aqui e ali há decepções, mas no global a leitura é uma primeira escolha.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Ciclo Árvores e Poesia - II



As árvores e os livros

As árvores como os livros têm folhas
e margens lisas ou recortadas,
e capas (isto é copas) e capítulos
de flores e letras de oiro nas lombadas.

E são histórias de reis, histórias de fadas,
as mais fantásticas aventuras,
que se podem ler nas suas páginas,
no pecíolo, no limbo, nas nervuras.

As florestas são imensas bibliotecas,
e até há florestas especializadas,
com faias, bétulas e um letreiro
a dizer: «Floresta das zonas temperadas».

É evidente que não podes plantar
no teu quarto, plátanos ou azinheiras.
Para começar a construir uma biblioteca,
basta um vaso de sardinheiras.

Jorge Sousa Braga

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

LHC - o universo dentro de um tubo

O primeiro feixe de protões a completar uma volta no acelerador LHC
(Grande Colisor de Hadrons)

Às 10:25 locais a ignorância e o obscurantismo levaram mais uma valente pedrada : após cerca de 55m de viagem, os raios de protões deram a volta aos 27 Km do tubo do acelerador, no seu primeiro teste.

O próximos passos trarão novos dados sobre o início do Universo, porque o LHC “simplesmente” recria as condições que existiam milionésimas de segundos depois do Big Bang.
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http://lhc.web.cern.ch/lhc/
http://www.lhc.ac.uk/

slideshow http://www.slideshare.net/CMP/el-gran-colisionador-de-hadrones-lhc-cmp-presentation/