quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Campanha pela 2ª de Brahms

No Diz que não gosta de música clássica de Fernando Vasconcelos decorre a votação das melhores sinfonias.

Das 10 à votação na fase final, todas são obras maiores; mas um pouco de campanha pela 2ª de Brahms, em 6º lugar, não faz mal a ninguém...

Brahms - Symphony No. 2 (2nd mov.) Adagio non troppo
Deutsch-Niederländische KammerPhilharmonie, dir. Otis Klöber


Música outonal, vem a calhar, melancólica como o céu do Báltico, disse alguém, emprego magistral da síncope e da variação. Procura da forma perfeita, do equilíbrio, rompidos por impetuosa fuga sonora de inspiração beethoveniana - linguagens inovadoras dentro dos padrões clássicos.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Mudanças climáticas: cada vez menos certezas

Afinal, os desertos recuam e dão lugar a verdura nos trópicos, chove como nunca nos países áridos e ... batem-se recordes de frio na Gronelândia! Tudo às avessas das previsões pessimistas dos que garantem estar em causa um aquecimento global, e pelo contrário tudo de acordo com os cientistas que há muito dizem que, numa larga escala temporal, atravessamos um período glacial.

1. Quando o deserto recua

Esta semana, com os lideres mundiais reunidos por causa do aquecimento global, não faltaram inundações no sul de França, em Istambul, na Grécia. Onde estão as secas catastróficas previstas para o sul de uma Europa em processo de desertificação?

Ainda mais estranha é esta tendência constatada por cada vez mais estudos: o deserto está a recuar! Imagens de satélite ao longo dos últimos anos mostram que o Sahel - toda a região central do Chade e oeste do Sudão - começa a verdejar. E não são uns ramozitos raquíticos que a primeira tempestade de areia transforma em erva seca. Não - são belos arbustos , acácias, e pastagens muito respeitáveis.



Os nómadas da região confirmam: nunca choveu tanto no Saara ocidental, que era uma região verdejante há 6 000 ans. O excesso de CO2 poderá trazer uma recolonização vegetal do Saara.

2. Na Nigéria, árvores e cereais fazem recuar a areia

Nesta região abafada em poeira, muito tempo vista como terra desolada e estéril, milhões (!) de árvores florescem. Um simples mas cuidado tratamento e abundantes precipitações permitiram o crescimento de árvores numa área de 7.4 milhões de acres. Desde há uns 30 anos, a Nigéria começou a ser muito mais verde.

http://www.acme-eau.org/Au-Niger,-Arbres-et-Recoltes-font-reculer-le-Desert_a1350.html

3. Inverno em Setembro


Na semana passada, no topo da capa de gelo da Gronelândia estavam 41º negativos. Em Setembro, é muito baixo. Pode ter sido uma invulgar baixa pressão, que também afectou a capital Nuuk, no litoral sul: uma violenta tempestade de neve, com 10º negativos de noite, estragou as habituais actividades ao ar livre nos Dias de Cultura de Nuuk em Setembro. Estranho aquecimento.

Consultar ainda:
http://p6.hostingprod.com/@treks.org/arcticthe.htm

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Ciclo Mar e Poesia - I



On This Wondrous Sea
Emily Dickinson

On this wondrous sea,
Sailing silently,
Ho! Pilot, ho!
Knowest thou the shore
Where no breakers roar
Where the storm is o’er?

In the peaceful west
Many sails at rest,
The anchors fast;
Thither I pilot thee.
Land! Ho! Eternity!
Ashore at last!




Neste Prodigioso Mar


Neste prodigioso mar,
Em silêncio a navegar,
Ho! Timoneiro, ho!
Conheces tu a praia
Onde não rugem as vagas
E a tempestade passou?

No tranquilo ocidente
Muitas velas em repouso,
Âncoras a descansar ;
Para lá vos conduzo.
Terra à vista! Eternidade!
Enfim, desembarcar!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Um belo Blog galego


Daniel Barenboim: a mediocridade esperada


Não espero que concordem comigo, mas é a minha opinião de há já muito tempo.

Arte e politica não convivem nada bem. Sobretudo quando esse convívio vai no sentido de a Arte servir a Politica. É o caso de Barenboim, pianista e director de orquestra medíocre, de quem não conheço uma única gravação de referência ou concerto de excepcional qualidade.

Barenboim toca e dirige como um apaixonado sem mestria: quase sempre exibe controle técnico razoável, competência mínima - mas uma agógica tosca, às vezes brutal, outras vezes caótica, sem modulações nem sensiblidade, preocupado apenas, além da técnica, com o impacto e a teatralidade. Típico de alguém que se serve da música para passar uma imagem e conquistar adeptos com efeitos fáceis, em vez de servir a música e o autor arriscando ser impopular. O seu Wagner no médio oriente é disso exemplo, o seu Chopin em Lisboa também.

Nunca percebeu, por exemplo, a renovação interpretativa e o entusiasmo pela música antiga, com a sua disciplina interior, que acha "burguesa" e "comercial"; a forma como dirige Mozart (como se fosse Bruckner) é abominável; nunca se apercebeu de que o romantismo não exige martelar fortíssimo no piano ou nos tutti de orquestra, fazer batota com floreados "virtuose" e descambar numa desmesura disparatada, mas viver uma individualidade que não é a sua de forma intensa e interiorizada.

Podemos simpatizar com o homem, os seus ideais e os seus motivos; é o meu caso - apoio a sua causa humanitária e a favor da paz. Mas não esqueço que não passa de um músico vulgar à procura de auditório político.

Pergunto: porque é recebido de forma tão encomiástica, media incluídos, quando comparado com a modéstia ou ignorância com que são tratados pianistas geniais como Sokolov ou Kovacevich, ainda há pouco em Portugal com salas pouco cheias ?

Tal como os tais cantores que disfarçam uma voz menor com muita teatralidade de gesto, Barenboim disfarça a sua menoridade com a multiplicidade de entrevistas, tomadas de posição, a publicação de livros e a gestão de imagem em concerto.

Pode ser outra coisa, mas de música tem pouco.

(reacção ao concerto de 21 de Setembro)

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Salas de Ópera: a Kungliga Operan de Estocolmo


Uma sala de ópera que gosto de frequentar é a Real Ópera de Estocolmo (Kungliga Operan). Para já, porque Estocolmo é para mim a mais bela das capitais europeias, assente sobre ilhas num vasto plano de água (como Veneza), com um centro histórico bem conservado e agradável, magníficas zonas novas e passeios marítimos, miradouros fabulosos, perfis urbanos e enquadramentos bonitos e invulgares, parques e museus abundantes, um serviço de transportes integrado modelar, e a luz incrível das latitudes mais a norte.

A Ópera está muito bem situada, nos limites entre a zona neoclássica e a cidade antiga, à beira de um canal do fiorde. É um magnífico edifício neoclássico, com uma escadaria de mármore, um foyer folheado a ouro, e um auditório algo pequeno – 1200 pessoas – mas elegante. Data de 1898, mas a ópera já existia em Estocolmo desde 1782, noutro edifício entretanto demolido.



Desta sala sairam para o mundo nomes como Birgit Nilsson, Elisabeth Söderström, Nicolai Gedda ; mais recentemente, Håkan Hagegård e Anne Sophie von Otter também são vozes assíduas aqui.

Da última vez, em 2007, assisti ao Cosi fan tutte, com uma excelente Dorabella de Susanne Végh; foi uma encenação muito elogiada, e com razão - não faltava criatividade e bom gosto nos cenários e roupas; a opção foi pelo humor na parte inicial, dando aos poucos lugar a mais seriedade; o elenco de cantores variava entre razoável e o muito bom - Gunnar Lindberg e Susanne Végh.


Direcção e encenação - Ole Anders Tandberg

Cast:
Maria Fontosh – Fiordiligi
Susann Végh – Dorabella
Peter Mattei – Guglielmo
Jonas Degerfeldt – Ferrando
Hilde Leidland – Despina
Gunnar Lundberg – Don Alfonso

Coro e orquestra da Royal Opera / Okko Kamu

À falta de um vídeo dessa récita, deixo aqui uma ária de Rossini cantada por Susanne Végh, à apreciação crítica do Alberto Velez Grilo (e mais quem queira) :


Susanne Végh
"Una voce poco fa", de Rossini (IL BARBIERE DI SAVIGLIA)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Fim do Verão

La Fin de l'été, Claude Monet

These are the days when birds come back,
A very few, a bird or two,
To take a backward look.

Emily Dickinson, Indian Summer

Estes são os dias em que os pássaros voltam atrás,
poucos, só um ou dois,
para um olhar de despedida

domingo, 20 de setembro de 2009

Novidades sobre a "Passagem do Nordeste"

Ainda há pouco publiquei dois posts sobre a "Rota do Mar do Norte ", e já há novidades: pela primeira vez na história, a Rússia permitiu a travessia a navios ocidentais - dois cargueiros alemães fizeram a viagem directa de oriente para ocidente, desde a Coreia do Sul até ao porto de Arkhangel, no Noroeste da Rússia, onde chegaram ontem, 19 de Setembro. O quebra-gelos que os acompanhou nunca foi necessário - sinal da recessão da capa de gelo ártica.

“Atravessar a Passagem do Nordeste tão eficiente e profissionalmente, sem incidentes e logo à primeira tentativa, é o resultado de uma longa preparação e do trabalho de equipa entre os capitães dos navios, os metereologistas e a tripulação"
Niels Stolberg, presidente da companhia mercante alemã "Beluga".


O "Beluga Fraternity" e o "Beluga Foresight" são os navios que fizeram história. A viagem foi um verdadeiro acontecimento - nunca navios estrangeiros tinham feito a Rota do Mar do Norte. Claro que se prevê, com a activação comercial da rota, um tráfico crescente - poupa mais de 8000 km, 10 dias de viagem, e evita a pirataria. Beneficia também o desenvolvimento económico das regiões árticas da Rússia servidas por portos. Finalmente a Sibéria poderá entrar no mapa da modernidade.

"É o renascer desta Rota, finalmente, e de todo o norte da Rússia", diz o chefe comercial do porto de Arkhangel.

A fusão do gelo do ártico pode ser má notícia para outras zonas do globo, mas vai permitir o crescimento civilizacional e económico de muitas regiões até aqui ignoradas, abandonadas e deprimidas.

Vídeo sobre a travessia aqui:
http://news.bbc.co.uk/1/hi/world/europe/8264445.stm

Vibrato Q.B. de David Daniels

De quem menos se esperaria, o contratenor David Daniels, eis um exemplo de abundante Vibrato nesta interpretação de Ombra Mai Fu, de Handel. Não é para todos os gostos!
(gravação no Avery Fisher Hall, New York, 1997 - já lá vão 12 anos !)



(piscadela a Fernando Vasconcelos de Diz que não gosta de música clássica ?)

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Actus Tragicus assombra Edimburgo

Actus tragicus - a ópera que Bach nunca escreveu?


Espectáculo assombroso no festival de Edimburgo deste ano: o coro de Stuttgart interpretou num cenário excepcional as 6 cantatas "Actus Tragicus" que J.S. Bach escreveu para o serviço funerário dos domingos na Thomaskirche de Leipzig.


Edimburgo não costuma primar pela inovação ( a não ser no "Fringe") , mas na convenção com qualidade. Por isso foi uma surpresa a encenação do ciclo de cantatas de Bach como se de uma ópera se tratasse; além da superlativa qualidade das vozes, o que em toda a parte se salienta é o inesperado cenário e a montagem das cantatas em estilo operático, com os cantores a desempenhar papéis de rotina diária moderna em contraste com o carácter litúrgico do canto.

Herbert Wernicke é o autor da ideia: não quis transmitir uma pregação religiosa, mas poesia musical que fosse estimulante emocional e espiritualmente. Estabeleceu um forte contraponto entre a linguagem fúnebre obsessiva de Bach e uma espécie de casa de bonecas, uma secção transversal de um edifício de 3 andares, cheia de actividades múltiplas, com as banalidades rotineiras da existência urbana - passar a ferro, lavar, vestir-se para sair, celebrar o Natal, perguntar a hora, distribuir correio, suicidar-se... Tudo representado pelo coro de 40 cantores.
Ao que se diz, esta visão teatral é ao mesmo tempo menos monótona - "conjugando moralidade com mortalidade" - mas ainda mais deprimente! Não tem nada de divertimento ou entretetenimento - pelo contrário, evidencia como são fúteis as preocupações humanas que se desenrolam em cada divisão da casa-universo que serve de cenário. Cada cantor-actor age como um robot, indiferente a tudo para além da tarefa que cumpre.

Há, pelo que li, cenas de gosto duvidoso - como a personagem da Morte , talvez ridícula em máscara e luvas brancas, ou um corpo embalsamado que representa Cristo. Outra fraqueza parece ser a opção interpretativa não histórica, ou seja, ao estilo germânico arrastado e com gravitas do pior dos anos 60.


Esta realização parece também confirmar o crescente esgotamento das poucas óperas do reportório - acaba sempre por repetir-se o 100º Cosi ou o 1000º Barbiere, as óperas contemporâneas não colhem, resta encenar como ópera o que puder ser adaptado...tem sido frequente a encenação das oratórias de Handel, por exemplo. Saltar para Bach é saltar um abismo, mas já há precedentes - as Paixões foram há pouco encenadas operaticamente.

Dois clips demonstrativos:

Actus Tragicus - Clip 1



Actus Tragicus - Clip 2

terça-feira, 15 de setembro de 2009

As aulas quando nascem não são iguais para todos

Começaram as aulas em Portugal. Drama do costume: os alunos não querem estudar, nem fazer os trabalhos de casa, nem desligar os telemóveis na sala de aula; não querem manuais nem cadernos diários, que é chunga, "a vida não está nos livros" - querem computadores com Net e passeios de "estudo". Não querem ouvir exposições "ex catedra" - querem sessões criativas no grupo-turma. Os pedagogos apoiam: há que usar o último grito de novas tecnologias e abolir o papel central do professor, a ver se os nossos alunos conseguem finalmente atingir os níveis da Finlândia. Os pais concordam: telemóvel, laptop, media interactivos, e mais - ninguém vai de autocarro! Os meninos têem direito a ir e voltar no carrinho dos pais, engarrafamento garantido à porta da escola.


As pastas destes jovens alunos da escola primária de Gulu, no sudoeste da China, vão de cavalo. A fila segue vagarosamente por um estreito corredor rochoso de muitos quilómetros que os leva de volta a casa.

domingo, 13 de setembro de 2009

A Passagem do Nordeste - uma epopeia nórdica (II)


A descoberta da Rota do Mar do Norte é uma das mais notáveis páginas da História da Rússia  

Nos anos 1930, o poder soviético estava impaciente com os atrasos que impediam a Passagem do Nordeste de ser a prometida rota regular de carga e passageiros.

O geofísico e veterano do ártico Otto Schmidt foi nomeado director do projecto da Rota do Mar do Norte, de Murmansk até Vladivostok, e em 1932, o quebra-gelos Sibiriakov, sob comando do capitão Vladimir Voronin , estava pronto para uma travessia da Passagem.

Embora o barco tenha sofrido sucessivas avarias, a viagem teve êxito: em apenas (!) 65 dias, o Sibiriakov foi de Arkhangelsk até ao Oceano Pacífico, sendo o primeiro navio de sempre a conseguir cumprir a rota da passagem do Nordeste numa só temporada, sem se abrigar num porto de Inverno.
Mas o Sibiriakov era um quebra-gelos, não um normal cargueiro. Para estabelecer a Rota, era preciso melhor.

O Chelyuskin, lançado em 1933

Entusiasmado com o sucesso, Schmidt preparou então outro navio, o Chelyuskin, construído na Dinamarca em 1933, e com um poderoso motor de 2 500 cavalos, estrutura reforçada, e chapas de aço extra à proa. Tudo à boa maneira soviética. Confiante de que o navio abriria facilmente caminho através do gelo do Ártico, fazendo uma viagem directa até ao estreito de Bering, Schmidt procedeu ao carregamento e embarque em 2 de Agosto de 1933; com 100 passageiros (incluindo cientistas) e uma pesada carga, o navio deixou Murmansk e navegou facilmente pela Rota até ser apanhado pelos campos de gelo em Setembro. Pelo caminho, os geógrafos foram mapeando a costa, os técnicos instalando estações de rádio (como dantes nós "plantávamos" padrões...)

A rota do Chelyuskin 1933-34

Por alturas do Cabo Chelyuskin, o Capitão Voronin deu conta de que o barco não estava à altura das expectativas, e as condições de navegação pioravam rapidamente. A meio de Setembro, o Chelyuskin ia progredindo penosamente, procurando estreitas linhas de água, virando e oscilando com as camadas de gelo, apontando sempre a Leste.

Chegado ao mar da Sibéria Oriental, a 200 milhas do estreito de Bering , subitamente estacou sem se poder mexer mais, bloqueado por todos os lados na sólida camada de gelo, a poderosa maquinaria completamente impotente.

Por rádio, o capitão soube que havia mar aberto 12 milhas adiante. Depois de semanas à deriva para Norte e Noroeste, Schmidt teve de concluir que estava prisioneiro da placa do gelo polar. Nunca conseguiria libertar-se. Com 5 membros da tripulação, começou a preparar o abandono do navio.

O fim chegou em 13 de Fevereiro de 1934, quando uma montanha de gelo abriu um buraco de 40 pés no lado do navio, inundando as máquinas e caldeiras com água gelada. O barco levantou-se, por momentos ficou quase de pé na vertical, expeliu uma enorme nuvem de fumo e afundou - desapareceu numa água suja em remoinho. Aos gritos de "Todos para o gelo! Abandonem o navio!", o último homem saltara minutos antes...

O naufrágio do Chelyuskin com a tripulação a fugir para o gelo.

A tripulação e os passageiros concordaram em construir o que chamaram “camp Schmidt”, um acampamento nos flocos de gelo, isolados da terra firme. Não tinham rádio nem havia aviões por perto. A temperatura rondava -30º/-40º. Estava fora de causa o socorro em trenós. A própria aviação estava nos primórdios... Mesmo assim, um mês depois, em 13 de Abril, 92 homens, 10 mulheres e 2 crianças tinham sido finalmente transportadas por via aérea para local seguro - nem uma vida se perdeu. Os próprios "Chelyuskins" tinham à força de braços arranjado umas "pistas" para os aviões aterrarem no gelo !


Camp Schmidt

A resistência da equipa do Chelyuskin no acampamento e o seu resgate pelos pilotos pioneiros é reconhecido com um feito heróico dos exploradores russos do ártico. Os pilotos fizeram 24 voos para conseguir salvar toda a gente, e receberam o título honorífico de Heróis da União Soviética. O resgate da expedição do Chelyuskin tornou-se um marco na história da Rússia. Na altura, a aventura correu mundo e fez as primeiras páginas dos jornais.

Um dos Polykarpov P-5s equipados com skis que tiveram um papel chave no resgate da tripulação do Chelyuskin.

Os restos do navio foram descobertos em Setembro de 2006 à profundidade de 50 metros no mar de Choukchi, a 68º 16´ N , 173º 51´W.

- A Rota do Mar do Norte foi oficialmente declarada aberta , e a exploração comercial começou em 1935. -

É parte integral da economia da região, é vital para o extremo Norte e Oriente da costa russa, onde garante o fornecimento de combustíveis, alimentação e outras mercadorias essenciais, e recolhe recursos naturais para o continente.

A dissolução da União Soviética, seguida da crise económica e social do espaço pós-soviético nos anos 1900, teve um impacto negativo nas condições da Rota, com a ruína de portos e da frota marítima. Fazem-se agora esforços para retomar o seu desenvolvimento .

Liapidevsky, o primeiro piloto a chegar a Camp Schmidt.

Fontes:
http://en.wikipedia.org/wiki/SS_Chelyuskin
http://goto.glocalnet.net/sm5iq/raemeng.html http://warandgame.wordpress.com/2008/05/
http://modelshipworld.com/phpBB2/viewtopic.php?printertopic=1&t=7273&postdays=0&postorder=asc&&start=170 http://en.wikipedia.org/wiki/Adolf_Erik_Nordenski%C3%B6ld
http://www.j1.se/index.php?option=com_content&view=article&id=193&catid=193&lang=en
De novo, obrigado Lastochka! - http://lastochka-fromrussiawithlove.blogspot.com/

sábado, 12 de setembro de 2009

A Passagem do Nordeste - uma epopeia nórdica (I)



A Passagem do Nordeste é a rota marítima ao longo da costa norte da Europa e Ásia , sobretudo costa ártica da Rússia, entre o Oceano Atlântico e o Pacífico. A distância de São Petersburgo até Vladivostok pelo Mar do Norte é 14280 km, enquanto via Canal de Suez são 23200 km, e pelo cabo da Boa Esperança - 29400 km.


Ainda no séc XV, começaram e ser feitos estudos para encontrar um novo caminho marítimo para a Índia e a China. Muitos dos estudos procuravam uma passagem do Noroeste (pelo Norte do Canadá). Contudo, navegadores Ingleses, Holandeses e Russos procuravam umaPassagem do Nordeste navegando ao longo da costa ártica da Rússia.

Sabemos o que os portugueses conseguiram - o caminho pelo Cabo da Boa Esperança - mas é pouco conhecida a história das travessias pelo ártico russo. Os holandeses, sobretudo, queriam encontrar um caminho mais rápido que o português.

Nos anos 1550, barcos ingleses fizeram a primeira excursão séria para conhecer esta passagem. O navegador holandês Willem Barentz também tentou - e falhou - várias vezes. Os gelos do ártico fechavam a rota durante a maior parte do ano. Explorou contudo as costas e as ilhas da parte ocidental do mar do norte. Descobriu em 1596 as ilhas Svalbard e a ilha dos Ursos. Com o declínio do domínio dos mares pelos holandeses, a exploração ficou a cargo dos russos; em 1648 o pioneiro Semen Dezhnev aventurou-se num pequeno barco a explorar a parte oriental e provou a existência de um estreito entre a Ásia e a América; descobriu as ilhas Diomede, descreveu detalhadamente a região do Chukotka, e fundou a cidade de Anadyr. A sua expedição é um ponto alto da história russa, comparável aos feitos de Colombo.

O russo de origem dinamarquesa Vitus Bering também explorou a parte oriental da passagem , no sentido contrário, e descobriu muitas ilhas - o seu nome foi atribuído ao famoso estreito de mar entre os dois continentes.

O vapor Vega junto ao cabo Cheluskin

Mas a Passagem do Nordeste não foi conseguida por ninguém até o sueco Nils Nordenskjöld vencer o desafio no navio a vapor Vega em 1878. Partindo de Karlskrona em Junho, o Vega dobrou o Cabo Chelyuskin em Agosto, e depois de aprisionado no gelo ártico no fim de Setembro junto ao estreito de Bering, completou a travessia no verão seguinte. O navio tinha uma máquina de 60 cavalos, estava equipado com velas e a velocidade máxima era de 7 nós (cerca de 2 Km/h!).

A rota do Vega

Nos anos 1900, quebra-gelos russos conseguiam navegavar por étapes através da passagem, e nos anos 1930s a Rota do mar do Norte, uma estrada marítima, foi estabelecida pela USSR. Desde a 2ª grande guerra, a União Soviética manteve a rota aberta , criando portos ao longo da costa e explorando recursos mais no interior. A frota de quebra-gelos era ajudada por reconhecimento aéreo e por estações meteorológicas via rádio, conseguindo manter aberta a passagem de Junho a Outubro.

Nils Nordenskjöld e o Vega.

Obrigado Lastochka!

Medalha comemorativa da viagem de Nordenskjöld
(Continua)

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Arvo Pärt, nascido a 11 de Setembro

O genial compositor estoniano faz hoje 74 anos.

Nasceu em 11 de Setembro de 1935, nas vésperas da revolução soviética, numa aldeia da Estónia.
Em 1944 assistiu à ocupação da Estónia pela União Soviética, ocupação que duraria 50 anos, e que nele deixou profundas marcas.


Em pequeno, costumava andar de bicicleta à volta do edifício da câmara local, para ouvir a música que era transmitida pelos altifalantes. Compôs a primeira obra aos 15 anos.
Influenciado pelas correntes de vanguarda da época (Schönberg) começou por compôr obras dodecafónicas ou atonais, muito mal recbidas pelas autoridades soviéticas.


Depois de um período de crise e retiro, voltou a compôr inspirado no canto gregoriano e no "tintinnabuli" (pequenos sinos), recorrendo ao silêncio, à repetição hipnótica influenciada por elementos de contraponto , ao uso de capaínhas e sinos , exprimindo a transcendência da sua fé - prefere que a sua música seja tocada em igrejas, tanto pela acústica como pela simbologia.


Em 1980, ele e a mulher evadiram-se para a Áustria, depois para Berlim, onde reside e continua a compôr, sendo para muitos o mais marcante e genial compositor actual.


A sua música tem proximidades com a escola minimalista, em particular o minimalismo sagrado ou místico de Henri Górecki ou JohnTaverner, e com a escola repetitiva do americano Steve Reich. As composições que lhe deram mais fama são Tabula Rasa, Spiegel im Spiegel, e obras corais como Pasio.

Arvo Pärt: Spiegel im spiegel, para piano e violoncelo



Recentemente estreou a sua Sinfonia No. 4, “Los Angeles” em 10 de Janeiro.

Bela entrevista com Bjork aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=2pDjT1UNT3s

Em minha opinião, o seu recurso à escala tónica, à melodia e harmonia tradicionais (embora sob formas renovadas, inspiradas em músicas de várias regiões do mundo) é mais uma prova da falência das teses fundamentalistas dos teóricos e das escolas atonais e electroacústicas. É possível continuar a criar música sublime dentro dos parâmetros melódico-harmónicos clássicos.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O recorde fulminante da chita Sarah

Um novo recorde de velocidade terrestre: a chita Sarah, um gatinho grande de 8 anos, correu 100 metros em 6.13 segundos. Ora ainda há pouco Usain Bolt estabeleceu o recorde humano dos 100 m em 9.58 segundos - uma tartaruga, chegava muito mais de 3 segundos atrasado ao fim de 100 m !

A Sarah, do Zoológico de Cincinatti, tem 8 anos; posta à prova ontem, perseguindo uma presa fictícia (como os gatos a correr atrás do novelo), fez o tempo recorde à 2ª tentativa.




As chitas, ou guepardos, são felinos originários da savana africana.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Vozes de hoje: Maria Cristina Kiehr

Uma nova Emma Kirkby

A soprano Maria Cristina KIEHR, que já esteve em Lisboa no CCB, é uma voz actualmente sem igual no reportório da música antiga – renascentista e barroca , fazendo lembrar a Emma Kirkby dos melhores anos. De facto faz “concorrência” aos contratenores masculinos, situando-se no mesmo registo mas com mais pureza, naturalidade, maleabilidade e fluência.

Händel: Se impassibile, immortale (La Resurrezione)



Se impassibile, immortale
Sei risorto, oh Sole amato,
deh fa ancor chogni mortale
teco sorga dal peccato!


Extraordinária agora no Ho un non so:
Händel: Ho un non so che nel cor (La Resurrezione)



Ho un non so che nel cor,
Che in vece di dolor,
Gioia mi chiede.

Ma il core, uso a temer
Le voci del piacer,
Onon intende ancor,
Oinganno di pensier
Forse le crede.


Felix Mendelssohn
"Jerusalem" (Paulus)
Deutsche Kammerphilharmonie Bremen



Maria Cristina Kiehr é argentina, descendente de dinamarqueses.
Aos 17 anos descobriu a sua voz espantosa de soprano, e a sua predilecção pela música barroca. Em 1983, veio para a Europa,para a Schola Cantorum Basiliensis, e estudou com René Jacobs.

Tem já uma longa carreira de concertos e gravações de música antiga, e inclusivamente criou agrupamentos musicais.

A sua voz é suave e angelical, mas ágil e muito expressiva, adequada como poucas à música barroca.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Porque detesto setembro


Detesto setembro porque morremos um pouco mais em setembro.
Em setembro, corações de gelo, vidas magoadas, crueldade,
Setembro é pesado, feio e escuro.
Setembro é como ser atropelado por um camião.
É querer ficar na cama com pesadelos
Sem vontade de ver o mundo em setembro.

Se detesto setembro! Onze de setembro !
Está-me no sangue e na pele
Sob as unhas e à volta dos olhos,
Odeio, odeio, odeio setembro!

Sujo setembro, pestilento,
Nem outono és, só a decadência do verão -
Detesto setembro, vai-te embora setembro,
Deixas-me debaixo dum camião.


Metro-boulot-dodo

Setembro amaldiçoado. Reuniões, papéis, planos, produção de inutilidades exponenciada.

Deitar fora tempo.
Engarrafamentos, filas.
Campanha eleitoral.


Podia apanhar a gripe ?

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

"A barriga do Arquitecto", de Peter Greenaway

Alguém viu este filme?

Uma bela sequência de abertura, sem dúvida. Música de Wim Mertens:





Mais belas e perturbantes imagens, mais música:



terça-feira, 1 de setembro de 2009

Salas de concerto: o KKL de Luzern






O KKL (Kultur und Kongresszentrum Luzern) foi obra do arquitecto francês Jean Nouvel. Construído entre 1995 e 2000, afirmou-se como uma das mais belas, requisitadas e frequentadas salas de concerto do mundo.

Na verdade são 3 edifícios de vidro e aço, unidos sob um fantástico tecto de alumínio negro. Nouvel terá dito, preocupado com a harmonia da obra com o movimento náutico de Lucerna: “se não posso construir dentro do lago, faço o lago entrar na construção” ... e fez o projecto, junto à água e ao cais de embarque, com dois canais que entram no prédio, tornando-o mais fresco, um repuxo, e uma galeria aberta que proporciona um belo enquadramento.


O interior é tão fantástico como o exterior, rico de espaços surpreendentes, de cores e materiais, e perspectivas sobre o lago e a cidade.


Os três edifícios são o Lucerne Hall (1800 ligares), o Centro de Congressos e o Museu de Arte.

http://www.kkl-luzern.ch/navigation/top_nav_items/start.htm

O meu melhor ano em Lucerna foi 2003; tive como já disse a sorte de assistir a uma assombrosa 2ª de Mahler, que veio a ser gravada em CD, no que foi o 1º ano de Abbado à frente da sua Orquestra:

Assisti também a um inesquecível recital de Cecilia Bartoli, divertidíssima, acompanhada singelamente pelos músicos do “Le Musiche Nove”, e não me lembro de tão elevada qualidade acústica em qualquer outra sala; estava eu nessa altura de cadeira de rodas...o que me garantiu um lugar de luxo !


O Festival de Lucerna tem duas épocas - Páscoa e Verão. Há também um festival de piano.

No Verão, o ponto alto são os concertos com a Luzern Festival Orchestra, dirigida por Abbado, os recitais líricos (Bartoli foi assídua) e as orquestras e maestros convidados (este ano, Simon Rattle com a Fil. de Berlim, nas Estações de Haydn !!!). Na Páscoa o ambiente é mais de câmara ou barroco - Harnoncourt tem sido recorrente - mas também há classicismo e Mahler.