quinta-feira, 31 de maio de 2012

Ludovico Einaudi

Este pianista e compositor italiano de Turim tem-se salientado por composições simples, minimalistas, que criam um ambiente contemplativo e valorizam o silêncio. Nada de verdadeiramente genial, mas pequenas pérolas de singela beleza.



O estilo elegante e sugestivo tem sido aproveitado no cinema, para o qual Einaudi compôs várias bandas sonoras. Com a música de Ennio Morricone, será talvez o melhor que a Itália tem feito ultimamente.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Gulbenkian 2012/13: ai, os programas...

Quem ler a lista de intérpretes, orquestras e directores convidados fica entusiasmado. Nem precisava de exemplificar, mas Rattle, Herreweghe, Zinman, Koopman, McCreesh, Blomstedt, à frente de orquestras de topo, e DiDonato, Mattila, Kissin, Uchida, são cartaz de luxo em qualquer parte, prometendo experiências musicais superlativas.

Mas mesmo na "prata da casa" há muita variedade e abundância, de quem esperar bastante e de quem não esperar grande coisa.

O balde de água fria vem com as peças que constituem alguns programas. Ou são demasiado triviais, muito déja vu, ou são demasiado adstringentes. Logo à partida, com Debussy a ser comemorado, compositor por quem tenho alguma aversão. Rattle e a Berliner só valem pela 3ª de Schumann. Mattila só vale pelas 4 canções de Strauss. Maris Janssons e o Concertgebow trazem uma noite chatérrima. Viktoria Mullova vem com músicas do mundo, ou seja, mais ou menos, lixo. A integral da sinfonias de Brahms casa sempre com um resto de programa intragável...

Saliento então as minhas escolhas:

1 - o ciclo de Piano é fabuloso:

- Evgeny Kissin, 18 de Outubro, programa soberbo (Haydn, Beethoven, Schubert, Liszt)
- Grigory Sokolov, 11 de Novembro , idem (Rameau, Mozart)
- András Schiff, 2 de Dezembro, Schumann e Beethoven
- Elisabeth Leonskaja, 26 de Janeiro, Schubert
- Murray Perahia, 3 de Abril, mesmo às cegas !

2 - Seis grandes concertos:

- Joyce DiDonato, Il Complesso Barocco, Alan Curtis , 2 de Fevereiro
Drama Queens
prevê-se dificuldade para arranjar bilhetes...

- Herreweghe, Orchestre des Champs-Élysées, 5 de Fevereiro
Haydn, Beethoven

- Tom Koopman e a Amsterdam Baroque Orchestra, a 4 de Março, trazem uma obra admirável de Telemann, a Donnerode, a não perder.

- O grande Herbert Blomstedt vem tocar Beethoven com a Gustav Mahler Jugendorchester dia 16 de Março. Ao piano Leif Ove Andsnes. Deve ser memorável...

...tal como a 17 de Março, com a 4ª de Bruckner !

... e a 18 de Março, Mitsuko Uchida com Mozart ! que 3 dias fabulosos!

16-17-18 de Março de 2013, Lisboa, FCG, ui!

Falta Zinman, ainda sem programa.

Last but not least, abundantes transmissões live do MET opera, todas provavelmente magníficas, um serviço público de excelência.

Vamos lá a ver se consigo alguma coisa em 2013, que este ano já está "esgotado".

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Adeus, House M.D.


Uma das melhores séries de TV de sempre acabou, deixando um vazio na minha semana e alguma saudade de personagens que apesar de ficcionais entraram de certo modo na minha vida.

Muito bom o artigo de Pedro Mexia no Expresso, "O Diagnóstico House". Extracto:

O diagnóstico House é detectivesco, heterodoxo, e arrasa o juramento de Hipócrates. Mas na verdade não se trata de um diagnóstico simplesmente médico. Dois célebres aforismos de House garantem que “a Humanidade é sobrevalorizada” e que “toda a gente mente”. Consequentemente, sugere House, só se consegue descobrir a doença humana se não tivermos grande consideração pelas pessoas, que usam as doenças como biombos, como alibis. House é um cínico, que despreza as pessoas tanto quanto despreza as regras apropriadas. Ele quer combater as doenças a seu modo, e não tem qualquer empatia pelos doentes, que vê como criaturas manipuladoras, que é preciso tratar com firmeza e brutal honestidade. (...)

Gregory House é um homem danificado, marcado por um pai rigorista, uma decepção conjugal, a perna morta, e o seu interesse na vida privada dos outros, interesse abusivo e intrusivo, é também a busca de um diagnóstico. De igual modo, as suas frases chocantes servem para observar as reacções das pessoas, como uma martelada no joelho. Hugh Laurie, conhecido como comediante woodehousiano, homem bem-sucedido, pai de família, pessoa encantadora, modesta, descobriu em si mesmo aquele farrapo humano, exausto, ácido, decepcionado. Filho de médico, depressivo clínico, Laurie metamorfoseou-se em House, o intratável de quem gostamos tanto, e em cujos olhos azuis intensos, frios, tristes, descobrimos um espantoso diagnóstico da nossa condição.


Inesquecível retrato de Hugh Laurie.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

La Alberca e El Santo Desierto de San Jose

Prometido é devido: mais uma reportagem sobre o passeio de Primavera.
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O Parque Natural de Las Batuecas- Serra de Francia, na província espanhola de Castilla Y Léon, fica logo à saída de Portugal pela A25, um pouco a sul de Ciudad Rodrigo.

A vila mais bonita do Parque é a vila histórica de La Alberca, situada a 1064 m de altitude, onde me instalei em 4 estrelas para explorar a região.

Ponte de entrada na vila

Praça da Igreja

La Alberca é uma povoação medieval, com casas de 3 andares anteriores ao séc. XVIII, inspiradas na arquitectura medieval da Normandia e Bretanha: base de granito, 1º e 2º andares com estrutura de caixilho em madeira e enchimento de pedras; frequentemente o rés de chão recua, dando lugar a colunas de sustentação dos andares de cima, mais salientes e apoiados em enormes troncos de carvalho, criando à face da rua um espaço abrigado do sol e da chuva.


O conjunto está bem tratado, embora muitas casas mais periféricas estejam abandonadas em ruína iminente.


A influência francesa deve-se a D. Raimundo de Borgonha, casado com uma filha de Afonso VI, que veio com a sua corte para estas terras.
Nesta altura do ano havia varandas e parapeitos floridos no 1ª andar.

Como é hábito, há duas praças - a da Igreja e a Plaza Mayor, a sala de visitas; aqui se instalam esplanadas e duas bancas de venda de produtos locais - mel, geleias, guloseimas de amêndoa. No centro, um cruzeiro antigo com fonte.




A vila terá sido lugar de bom convívio entre judeus, árabes e cristãos desde o séc. XIII, e feudo dos Duques de Alba.

O edifício mais interessante da praça é a Casa Ducal, que foi casa do Administrador dos Duques :



A Igreja é do séc XVIII, neoclássica:
O mais interessante - além da cegonha que nidificou na torre sineira ;) - ...


... é o belo púlpito do séc. XVI :

Esculpido em granito polícromo, representa os 4 evangelistas e está suportado por uma capitel decorado com esculturas de anjos.

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No Parque, o primeiro passeio foi sempre a descer em zig-zag até ao fundo do Vale do rio Batuecas, uma cova fresca, verde, frondosa e muito isolada no meio das montanhas (que rondam os 1000 - 1500 m).


A primeira surpresa agradável do Parque é a floresta. Densa, isenta do menor sinal de incêndios, variada. Sobretudo carvalhos, imensos bosques de carvalho e azinheira em planalto ou cobrindo as encostas. Troncos carregados de musgo e líquenes atestam a pureza do ar e da água. Mas também bosques de nogueira e castanheiro (mais esguios e altos que os nossos), pomares de cerejeiras (carregadinhas de fruto ainda verde) e macieiras, algumas figueiras, um ou outro pinheiro - em geral exemplares magníficos, grandes e de copa bem redondinha. Salgueiros junto aos cursos de água. Ao todo vi UM eucalipto.

Ouvi na rádio local que a área florestal do Parque é a maior da península, e mais do que a floresta da Bélgica, Holanda e Luxemburgo somadas. Ao ver um mar de encostas carregado de copas verdes em toda a extensão à minha volta, acreditei.

Nesta altura, as bermas da estrada e as encostas suaves estavam também coloridas pela giesta e campos de papoila, alfazema e miosótis. Um regalo.

Uma vez chegado lá em baixo junto ao rio, encontra-se um parque para estacionar e indicação de percurso a pé.


O caminho segue quase plano, junto ao rio por entre o bosque sombrio :) , até desembocar no portão de entrada do Mosteiro.

Rio Batuecas

O Vale foi descoberto no séc. XVI pelos padres Carmelitas, que o baptisaram “Desierto de San Jose” e o escolheram para construir o Mosteiro, terminado só em 1688.




Sofrerá varios incendios e um abandono progressivo até ficar practicamente em ruínas, até que após algum restauro os padres Carmelitas voltem a instalar-se em 1950. Lá continuam.

A entrada está fechada a visitantes devido à absoluta reclusão e silêncio a que se votaram. Querem ouvir a sinfonia das cigarras, da passarada e do marulhar das águas entre as pedras. Eu até era capaz de gostar da reclusão e do silêncio, mas ninguém me tire a música, por favor...

¡Mi amado, las montañas, 
los valles solitarios nemorosos, 
las ínsulas extrañas,los ríos sonorosos, 
el silbo de los aires amorosos;  

la noche sosegada, 
en par de los levantes de la aurora, 
la música callada, la soledad sonora, 
la cena que recrea y enamora; 
Cántico espiritual - Canciones entre el alma y el esposo
San Juan de la Cruz
(1542-1591)

sábado, 19 de maio de 2012

Dieskau, uma tília




Silêncio, nada mais.

Castelo Mendo

Comecei o passeio de Primavera por uma paragem nesta aldeia beirã, outrora vila muralhada. Fundada e desenvolvida no reino dos Sanchos, foi com D. Dinis, em finais do séc XIII, que alcançou maior importância, pela posição estratégica fronteiriça. A feira franca de Castelo Mendo era a maior das redondezas. A paz com Castela acabou aos poucos com o protagonismo da vila.


Depois de muitos anos ao abandono, só com a classificação como Aldeia Histórica se revalorizou um pouco; embora sem "monumentos", é um encanto para os sentidos percorrer as suas ruas estreitas, entre casas de pedra, algumas com escadaria ao 1º andar.



Brota verdura em todos os interstícios - nas soleiras, nas pedras da calçada, nos degraus - e não faltam vasos à porta e nos parapeitos. Nesta época do ano, entre vários chilreios - andorinhas esvoaçando constantemente - e perfumes - gerânios, tomilho, alfazema - a limpeza absoluta das fachadas e da calçada ressaltava a rude pureza da pedra.


Ao dobrar as esquinas, há sempre mais uma perspectiva - uma janela, uma chaminé, um candeeiro, um jardim.

A casinha onde pernoitamos era de conto de fadas, uma casa de bonecas, térrea, de porta e janela vermelha e com jardim em frente, numa curva desnivelada com escadaria. Um postal. A Casa do Corro.

E o Côa, ali tão perto.

domingo, 13 de maio de 2012

Passeio de primavera

Primeira "saída" de 2012, apenas trans-fronteiriça. Vou celebrar a verdura, a água e as flores para o Parque Natural de Las Batuecas - Sierra de Francia e a aldeia de La Alberca. Uma semana.

Fica aqui um cheirinho, se fôr caso disso depois faço reportagem.

Peña de Francia

Camiño del agua
Mosteiro de San José de las Batuecas
La Alberca

Boa Primavera !

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Bernardo Sassetti

Um dos nossos melhores músicos.


Reflexos Movimento Circular

Don't know dream that's not been shattered

Porquê Simon e não Garfunkel?

Deram-lhe meio prémio e reescreveram a História. Mais triste que outra coisa.



Paul Simon recebeu (com o violoncelista menor Yo-Yo Ma) o sueco Polar Music Prize - prémio da música polar ?!! - que já tinha sido atribuído a Elton John, Paul McCartney, Bjork e Bob Dylan. Enfim, muito eclético. Simon & Garfunkel não ganharam nada com isso.



Que diferença !

quarta-feira, 9 de maio de 2012

E o que é que isto lembra ?



Europa vinte vinte

A gente precisa ( ou se calhar "merece") de miragens de bem estar no futuro. Já tivemos "amanhãs que cantam" em múltiplas versões socialistas que marcaram a História, e vimos no que isso deu. Mas agora é a Europa.

Em inglês, "Europe 2020" (twenty twenty) é um projecto de crescimento para atingir determinados objectivos optimistas em 2020. Por cá, traduziram por "Europa vinte vinte", deve ser mais uma adenda jeitosa ao Acordo Ortográfico. E apregoam a coisa como se fosse o nosso horizonte de esperança. O site na net é um regalo de mapas, tabelas e gráficos. Parece que vem aí o Paraíso.

Desconfio disto como o diabo da cruz. A Europa, como tudo o mais que vale a pena, ou é hoje ou o mais certo é não ser nunca. Deixem-se de utopias a prazo, senhores, cuidem dos que vivem. E cuidem já desta Europa, a única que temos.

http://ec.europa.eu/europe2020/index_en.htm

segunda-feira, 7 de maio de 2012

A Guernica e uma Bíblia moçárabe de 920

A Bíblia do Diácono Juán de Léon, manuscrita em 920, pode ter sido uma inspiração muito forte para a Guernica de Picasso:

Segundo estudos recentes, a "coincidência" não é improvável - é imposssível. O touro, o leão, o cavalo exibem demasiadas semelhanças, e Picasso teve conhecimento da famosa Bíblia sacra da catedral de Léon, de inspiração moçárabe e em escrita visigótica. As ilustrações do diácono Juán são cubistas "avant la lettre", e até com as Demoiselles d'Avignon há semelhanças chocantes !

Consultar:

http://www.turismo-prerromanico.es/arterural/miniatura/BIBLIASACRA-LEON/BIBLIASACRA-LEONficha.htm

http://www.artknowledgenews.com/Cathedral_of_Leon_Museum.html

Bem, terá Picasso violado direitos de autor por não ter citado a fonte ?

sábado, 5 de maio de 2012

Lua, da minha varanda

Na noite em que toda a gente tira fotos à Lua, cá vai a trilionésima e mais uma...




É verdade que ela está bem bonita. Com binóculos, já é um gosto.

The Freedom of the Moon

I've tried the new moon tilted in the air
Above a hazy tree-and-farmhouse cluster
As you might try a jewel in your hair.
I've tried it fine with little breadth of luster,
Alone, or in one ornament combining
With one first-water start almost shining.

I put it shining anywhere I please.
By walking slowly on some evening later,
I've pulled it from a crate of crooked trees,
And brought it over glossy water, greater,
And dropped it in, and seen the image wallow,
The color run, all sorts of wonder follow
.

Robert Frost

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Música para o fim de semana

Nunca me canso de ouvir a ária das Goldberg de Bach. Mas esta versão de Yo-Yo Ma com Tom Koopman é única. Nos antípodas da "autenticidade" barroca, Koopman rearranja com talento a mesma linha melódica fabulosa, uma das melhores da História da Música, agora no violoncelo. Koopman toca ao órgão a parte da mão esquerda do piano. Só ouvindo.


terça-feira, 1 de maio de 2012

Requiem de Berlioz na catedral

Nunca ouvi em concerto esta obra prima de Berlioz, o grande compositor francês do romantismo. Em Portugal não me lembro de ser programada. Envolve um enorme esforço logístico e muitos, muitos ensaios...

Vou no próximo mês ouvi-la em Londres, na St. Paul's Cathedral, com a London Symphony Orchestra dirigida por Colin Davis - talvez os maiores especialistas na obra, com uma gravação de referência e já muito experimentados em concerto - os intérpretes perfeitos ! Escusado dizer que tenho grandes expectativas para esse dia.

A Grande Messe des Morts tem uma orquestração arrasadora, grandiosa até mais não, sobretudo nos metais, na percussão e no côro. Não é uma obra meditativa ou espiritual como outros Requiems (mesmo o de Verdi é mais introspectivo!) - é sobretudo uma obra espacial, de um romântico excessivo, de um visionário desmedido. E às vezes é mesmo disto que sinto precisar.

Na primeira execução nos Invalides, em 1837, Berlioz usou 400 músicos. As suas indicações eram:

"O número de executantes é apenas indicativo; se o espaço permitir, o côro pode ser duplicado ou triplicado, e a orquestra aumentada em proporção."

Em St. Paul serão "apenas" 200 músicos, com 4 secções de metais nos 4 cantos da igreja e 12 tímpanos (!!) mais o coro da LSO a ribombar na enorme cúpula, que não fica atrás da dos Invalides para onde Berlioz compôs a obra. Berlioz foi um precursor da "espacialidade" da música - o público deverá estar no centro , com os executantes em redor criando um palco imenso...

Enfim, mania das grandezas...

Colin Davis, LSO, Wandsworthchorus - versão integral


Para quem quiser só um excerto, o clímax da obra é o Lacrimosa, sobretudo os minutos finais:


Dados musicológicos aqui.