sábado, 31 de agosto de 2013

(5 anos)
Brahms, mein Brahms




O Livro de Areia, nascido a 31 de Agosto de 2008

Para comemorar condignamente este quinto ano, música do meu Brahms: um canto sem igual, uma obra escrita em 1870 - a Rapsódia para alto, op.53, com textos de Goethe, de que extraio a Parte II:
Ist auf deinem Psalter,
Vater der Liebe, ein Ton
seinem Ohre vernehmlich,
so erquicke sein Herz!
Öffne den umwölkten Blick
über die tausend Quellen
neben dem Durstenden
in der Wüste!
Se entre os teus Salmos,
Pai do Amor, houver um canto
que o seu ouvido escute,
então dá-lhe novo alento!
Guia o seu olhar toldado
para as mil nascentes de água
pois sofre sedento a aridez 
do deserto !

Janet Baker, um clássico

Alice Coote, nos Proms 2009


E já que Janet Baker foi aqui chamada, lembro palavras suas na recente entrevista a Joyce DiDonato:

"Perhaps it comes from reading a great deal. I've read all my life, I learned to read very very early before I went to school. So the written word has always fascinated me, and language itself I find exciting and beautiful."


domingo, 25 de agosto de 2013

Vozes, rostos e estratégias editoriais


Anda por aí uma competição doida pela popularidade (logo, vendas ) das caras lindas do canto lírico. De tal modo que os autores (compositores) nem interessam nada - deixaram de figurar na capa.


O duelo Netrebko / DiDonato começa a ser coisa de doidos, e a publicidade aos discos que estão para sair já ultrapassa o que se faz com estrelas do pop/ rock. O mau gosto, como não podia deixar de ser, já levou a melhor sobre o suposto bom gosto do reportório ou a beleza do timbre - agora vale tudo. E começa a ser irresistível a minha tentação de nem sequer os ouvir.


O mesmo com Kaufmann, claro, o menino bonito contraponto às mulheres fatais. As poses de uns e de outros tornam-se de tal modo irritantes que me dá ganas de os mandar ver se chove.

Anda tudo a vender o corpinho bem feito e a cor dos olhos, tal como os encenadores apostam também na sensualidade que vende, e vai a música clássica de entrar numa comercialização similar à que matou o pop/rock. Até o Dudamel, que é um maestro abaixo de medíocre, já vende pela imagem,.

Agora veio um estudo idiota (ou não) dizer que, quando apreciamos música cantada, conta mais o que vemos do que o que ouvimos. Pode ser que certo público fútil e imbecilizado vá ouvir a Fleming  pelos olhos ou pelo decote; quem gosta de música continua a preferir gravações (sem imagem) dos anos 50 e 60, ou as feiotas Sutherland e Horne. Isso sim, eram vozes.

Não teria jeito negar que uma bela voz só fica a ganhar num rosto expressivo e atraente. Daí a inverter critérios... mas nada que seja assim tão novo, afinal já a Callas e a Tebaldi alimentavam paixões.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

As torres gémeas de Reculver


Na minha recente visita ao Kent, pensava conseguir aqui chegar, mas afinal era demasiado longe e fez-se tarde ainda estava eu em Rochester. Fica aqui uma reportagem com vários recursos encontrados na net*.

As torres de St. Mary Church, em Reculver, na costa norte do Kent.

A invasão romana da Britannia pode bem ter tido lugar por estas bandas. Em 43 AD, quando se instalaram na ilha, os romanos construíram um pequeno forte neste local, que deve ter tido um papel importante, e que foi aumentando progressivamente ; no séc. II já era um Castrum, designado por Regulbium. Era uma fortificaçao quadrada de 180 m de lado e cantos arredondados.

Plano do Castrum, conforme as escavações arqueológicas, com quase metade já submersa pelo mar.

Dentro do forte havia arruamentos, quartel, casas (muitas em madeira),lojas, dormitório, e um banho. Há documentos que referem uma ocupação de 500 homens.
Talvez o documento histórico mais valioso de Reculver: atesta que o então governador Fortunatus dirigiu a construção da Aedes (santuário) e da Basilica do forte, sendo à época Triarius Rufinus o governador da Britannia Superior, ou seja entre 210 e 216 DC.

Um dos troços de muralha ainda de pé.

Quando os romanos se retiraram, já no século V, Reculver passou a propriedade do reis anglo-saxónicos do Kent e foi integrado na cadeia de defesa costeira dos saxões contra as investidas de piratas e franceses.

Em 669 DC o forte foi cedido para a construção de um mosteiro beneditino dedicado a Santa Maria, com uma igreja ao centro que veio a ser a igreja paroquial de Reculver. As duas altas torres só foram erigidas durante uma remodelação no século XII.


Na Idade Média, Reculver já era uma vila vibrante, com mercado semanal e uma feira anual.
Reculver num mapa de 1685: o mar já está raso à muralha. A vila cresce fóra, mas St. Mary permanece guardada no interior do antigo forte.

Um espantoso desenho de 1813 mostra parte da muralha já suspensa pela erosão do terreno que a sustentava.

Mas a igreja medieval viria a ser demolida em 1809, devido ao forte impacto da erosão da costa que a ameaçava perigosamente. Ficaram as torres como sinal de perigo para os navegantes.

As torres só existem ainda devido à forte protecção construída contra o avanço do mar; senão toda a área teria já desaparecido.

O avanço de mar nesta região foi catastrófico. A vila, e com ela parte do forte romano, estão submersos e já afastados da linha de costa actual. Mas ainda se vê boa parte da muralha e algumas ruínas interiores.

Chegaram até hoje as chamadas torres gémeas (twin towers), que se tornaram referência para marinheiros por se avistarem a grande distância.

Coordenadas: 51.38°N, 1.20°E

Vestígios arqueológicos: Museu de Herne Bay

Neste pequeno museu está a maioria do escasso espólio encontrado em Reculver: cerâmica, esculturas, armas, moedas, utensílios.

Este mármore representa talvez um deus marinho segurando uma rede, ladeado por um peixe, uma planta aquática, uma rã e ouriços do mar. Foi encontrado na praia de Reculver.

Estão ainda na cripta de Canterbury duas colunas romanas posteriormente utilizadas para suportar arcos da igreja saxónica.

A sensaçâo de solene grandeza quando as torres se agigantam em contraluz ao pôr do sol parece lembrar que ali se fez História.


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quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Bruch em trompete


Canzone, op.55, de Bruch

Sergei Nakariakov, trompete
dir. Ashkenazy, orquestra Philarmonia

Gravação recente Teldec

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

A brincar com a Lua


Há momentos assim, parece que estão à nossa espera. Ia eu na minha passeata ciclista de fim-de-dia, a aproveitar a fresca, o vento norte já amainado e a última luz, quando do lado oposto ao mar a Lua começou ao esconde-esconde comigo.





A noite, horas depois, trazia o vento sul, muita humidade e um halo enorme à volta do círculo branco. Enfim, foi luar de pouca dura.

domingo, 18 de agosto de 2013

Árvores: uma Zelkova Carpinifolia no Parque


Em dias de semana deste verão, o Parque da Cidade continua a ser um refúgio irresistível, sobretudo pela entrada das trazeiras.


Junto ao café-esplanada que funciona na eira da antiga quinta, o Meet, há um belo exemplar ainda jovem de uma árvore que me chamou a atenção: uma Zelkova - como vim a saber pelo Tiago, que me serve bons cafés e não só - e que passou a minha árvore "de estimação". Ao longo das estações gosto de acompanhar como se vai vestindo, pois também há modas sazonais do reino vegetal.

Nativa das montanhas do Cáucaso, a Zelkova Carpinifolia é conhecida também por Ulmeiro-do-Cáucaso, embora sem relação com os Ulmeiros.


De tronco grosso e curto, divide-se a pequena altura em grandes ramos ascendentes que se alargam para compor uma copa redonda e densa.

A folha, lanceolada e dentada, com penugem e aveludada ao toque, é muito bonita, sobretudo na primavera, de um verde claro e tenro.

No outono, a folhagem dourada é deslumbrante; depois, despida, a Zelkova faz lembrar uma vassoura invertida. Quando lá chegarmos, aqui mostrarei.

Sendo uma árvore ornamental muito recomendável, quase não é cultivada em Portugal, o que é estranho dada a sua resistência e longevidade, e o facto de estar declarada espécie ameaçada.


Mas há sempre mais que ver no parque.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Wordsworth, como uma noite da Lapónia




Thy thoughts and feelings shall not die,
Nor leave thee, when grey hairs are nigh,
A melancholy slave;
But an old age serene and bright,
And lovely as a Lapland night,
Shall lead thee to thy grave.

O que pensas e sentes não morrerá,
nem te deixará, quando o cabelo grisalho vier,
um melancólico escravo ;
Mas uma idade avançada serena e clara,
e linda como uma noite da Lapónia,
te conduzirá à sepultura.


[To a Young Lady, 1805]



Action is transitory - a step, a blow,
The motion of a muscle - this way or that -
'Tis done; and in the after-vacancy
We wonder at ourselves like men betrayed:
Suffering is permanent, obscure and dark,
And has the nature of infinity.

Agir é transitório - um passo, um golpe,
Um músculo que se move - desta ou daquela maneira -
Está feito; e no repouso que segue
Olhamos para nós próprios como homens traídos:
O sofrimento é permanente, obscuro e negro,
E tem a natureza do infinito.


[ The Borderers, 1832 ]


(...)
Whether we be young or old,
Our destiny, our being's heart and home,
Is with infinitude, and only there;
With hope it is, hope that can never die,
Effort and expectation, and desire,
And something evermore about to be. 

Sejamos nós novos ou velhos,
o nosso destino, o coração e a casa do nosso ser,
está na infinitude, e só aí;
Está com a esperança, que não pode morrer,
com esforço e expectativa, e desejo,
E outra coisa ainda quase a nascer.


[The Prelude, Book VI, 1888 ]



sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Leigh, Kent: uma igreja rural inglesa e um órgão azul


Leigh á uma aldeiazita no norte do condado de Kent, e mais parece um condomínio de moradias de tijolo avermelhado da cor da terra barrenta, disseminadas entre sebes e jardins, atravessado por arruamentos que correm em meandros sem direcção definida. Florida, muito florida, e decorada com Aston Martins e Jaguars a dar sinal do nível de quem lá vive.
"Either rich, or filthy rich".




Uma roseira trepadora

Jardim privado

Uma estação de combóio, uma paragem de autocarro, um posto de correios, uma loja tem-tudo, e um country pub à face da estrada - o Fleur de Lis - muito simpático entre profusão de arranjos florais coloridos. Bom café, vá lá.


Uma das 'atrações' é um poço coberto, com bomba manual, operada com alavanca.

Mas o mais interessante é provavelmente a Igreja de Santa Maria.

Entrada pelo graveyard.


St. Mary's foi construída no séc XIII - várias secções em pedra atestam esta antiguidade medieval; mas sofreu incêndios e maus tratos, pelo que foi profundamente remodelada em 1860, quando foi construída a alta torre com ameias revivalistas e nada menos que 6 sinos !

Tem graça o pórtico lateral (restaurado) e a pequena torre.

No interior, do lado sul da capela-mor, este belo órgão  Hill and Son , de 1879.

[ Fotos dedicadas à Gi :) ]

Os melhores vitrais estão na fachada sul, e representam um ano de trabalho agrícola - lavrar, semear e colher.


Uma meia-tarde soalheira bem passada.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Benjamin Grosvenor toca Ravel


Tem faltado música aqui.

Seja então o 2º andamento do concerto para piano de Ravel pelo jovem pianista inglês Benjamin Grosvenor. Sublime.

Música da noite...

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Bruch e Korngold pela Gulbenkian, com Arabella Steinbacher


Grande disco, esta gravação da Orquestra Gulbenkian dirigida, ainda, por Lawrence Foster.
Ouvi ontem na rádio e fiquei siderado. Uma maravilha de interpretação e de sonoridade. Terei ouvido bem ? tinha: é mesmo a "nossa" Gulbas. Já tenho prenda para dar nos próximos tempos.
...the Orquestra Gulbenkian under Lawrence Foster far outplay the LSO...

...the sheer bravura and grip that soloist and orchestra alike bring to the music make the experience far more exciting...
http://www.sa-cd.net/showreviews/8598#9693

A gravação Pentatone também ajuda - um som límpido que é um sucesso de engenharia.

(e sabe bem publicar aqui isto, depois do anterior horror-post ! )