terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Janela sobre Roma, por Taiye Selasi


Conforme prometido, mais um texto do "Windows on the world" editado pela The Paris Review. 
Texto de Taiye Selasi, desenho de Matteo Pericoli.


Este Verão escrevi o meu primeiro artigo de sempre em italiano, considerando as razões por que a Cidade Eterna atrai tantos autores expatriados. No meu limitado italiano, propus três razões — a beleza, o calor, a não-grandiosidade —  as que me vêm à ideia quando olho para esta vista. Quando o Sol começa a baixar por trás dos verdes dourados do Gianicolo, fico a olhar para a abóbada da Basílica de S. Pedro, sempre de respiração suspensa. A beleza pura desta antiga cidade — a escala das igrejas, a densidade das árvores, os tons pastel das fachadas, a volúpia das nuvens — está em plena exibição, tal como a vejo daqui.

O meu relógio é o relógio do topo da Basílica de Nª Sª de Trastevere, somando os seus carrilhões à ruídosa alegria das conversas, às buzinas, às risadas. Nunca há um momento de enfado na Piazza de Santa Maria em Trastevere; podemos sentir, tanto como ouvir, a alegria do encontro social. Mas é a imperfeição de Roma que acho mais sedutora, um convite para ir a jogo: o grasnar das gaivotas, nonne quezilando, a tinta a lascar das paredes.



----------
Dá-me uma enorme vontade de correr já à cidade onde todos os caminhos vão dar. Tenho que ficar em Trastevere, está visto, num hotelzinho com janela sobre um pátio e vista para o casario. Só para escutar avozinhas a rabujar na piazza entre as campanadas, já vale a viagem.


3 comentários:

Virginia disse...

Acompanho a entrada com o meu iPad e o texto ao vivo!! ( Não a cores!!!).

Obrigada!!

Gi disse...

Roma vale sempre a pena. Que saudades. Nunca fiquei num bom hotel, mas ainda assim ia para lá amanhã se pudesse.

Mário R. Gonçalves disse...

Já estive a ver, Gi, e há um bom Hotel Santa Maria mesmo onde eu queria, entre a Piazza e a ponte pedonal. Talvez em Setembro, na rentrée, que em Julho e Agosto Roma é pouco frequentável.