quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Marés vivas do século: espera-se a maior em Março, depois do eclipse.




No final do próximo mês de Março, terão lugar as marés vivas de maior amplitude que se prevêem desde que há registo. Isto deve-se à conjugação dos três astros Sol, Terra e Lua, perfeitamente (ou quase) alinhados no plano equatorial, o que é um acontecimento astronómico raro. As condições que se observarão a 21 de Março repetem-se aproximadamente de 18 em 18 anos (a periodicidade não é contudo perfeita), pelo que a designação "maré do século" é mais mediática do que científica. A última grande maré foi em 1977, a seguinte será em 2033.

Lua Nova ou Lua Cheia favorecem marés mais fortes. Para além disso, em Março, Lua e Sol estarão alinhados no plano equatorial.

A maré viva de equinócio acontece quando o Sol passa no plano do equador terrestre. Por isso, nas costas da europa ocidental, nos meses de Março-Abril e Setembro-Outubro as marés vivas são mais intensas que no resto do ano, e os coeficientes mais elevados.

Para atingir uma amplitude fora do vulgar, além da conjugação dos astros, também concorrem (1) a pressão atmosférica (2) os ventos. Uma situação de tempestade ciclónica poderia desencadear marés trágicas.

Em França, a amplitude de uma maré é medida por um coeficiente que varia entre 20 e 120. A designação "maré do século" entrou em uso sempre que esse valor ultrapassa 110, o que é raro.

Frequência vs. Coeficiente de Maré nos últimos 20 anos: as "marés do século" são raras, em 20 anos há meia dúzia até ao coef. 115, uma só de 118...

A 21 de Março próximo, espera-se na baía do Monte St. Michel um coeficiente 119, correspondente a 14,15 m de diferença entre maré baixa e maré alta - mais que um prédio de 4 andares. A baía é o segundo lugar no mundo com maior amplitude de marés ( o primeiro lugar é no Canadá). Nessa amplitude enorme também a maré baixa será impressionante, muito mais recuada que uma maré normal.

Comparação de uma maré do século (coef. 118) com uma normal (coef. 36). A primeira é tão mais intensa em maré cheia como em maré vaza.

Mas junto a St. Michel a maré avança suave e rapidamente, devido ao fundo plano - à velocidade de uma cavalo a galope. Para alguém desprevenido, mesmo a correr será difícil escapar-lhe. Pela mesma razão, é muito menos violenta, não se criando ondas gigantes. Essas são frequentes, sim, na Bretanha mais ocidental - em Saint-Malo, ou em Brest, ou pior que tudo, na martirizada Ilha de Sein.

Contra a muralha de Saint-Malo.

As ruas e prédios marginais de Saint-Malo sob forte maré viva.

Nesta sexta-feira passada, dia 20, esperava-se um coeficiente 118. Devido às boas condições atmosféricas, a excepcional maré foi menos violenta, sem ondas gigantes. Agora receia-se Março e Setembro:


Para tornar o próximo mês de Março ainda mais interessante, no dia 20 há um eclipse solar (parcial no sul da Europa), causado exactamente pelo mesmo alinhamento astral. Durante a semi-escuridão, com provável quebra de energia eléctrica pela falha das centrais solares, as marés terão um efeito ainda mais ... apocalíptico ! Não sei como não há predições de fim do mundo para esse dia.


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Também as marés vivas na Foz do Porto estavam bem assanhadas no passado fim-de-semana, é um aviso para daqui a um mês. Algumas fotos:





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Principal fonte: SHOM (Service Hidrographique National)

3 comentários:

Virginia disse...


Gosto imenso de ver o mar bravo, mas tenho receio de me chegar muito perto. É sempre um espectáculo junto ao Forte de S. João, onde tirei umas fotos lindas ano passado. Obrigada por tanto ensinamento. Vamos aprendendo .....

Gi disse...

Estou como a Virginia, gostava imenso de ver, mas de um lugar seguro, duma janela do segundo andar, vá.
Como gostava de ver a erupção do Etna ao vivo mas de um lugar seguro.

Mário R. Gonçalves disse...

Convém não ir demasiado perto, o banho pode ser perigoso... Durante o eclipse é capaz de valer a pena ir dar uma espreitadela.

Mas o que mais temo é pela nossa costa, se a investida for forte.