segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Os Clarinetes de Pleyel: quando a segunda linha tem um toque de génio


Poucos terão ouvido falar, ouvido a música, de Ignatz Pleyel. Não figura nos incontornáveis da História da Música, mas o nome soará familiar por ter sido atribuído à melhor sala de concertos em Paris, a Salle Pleyel.

De facto, Ignaz Josef Pleyel (n. Ruppersthal, Áustria, 1757, naturalizado francês) foi talvez o compositor mais popular em vida na Europa ! A sua fama deveu-se também ao sucesso como editor musical e construtor de pianos. Tal como Cherubini, Meyerbeer, Hummel e outros, a posteridade não lhe reconhece a enorme reputação de que gozava no seu tempo.


Pleyel foi com certeza aluno, amigo e protegido de Haydn, com quem partilhava a cena musical da época. Muitas das obras escritas sob influência de Haydn nos anos 1787-1795 são de grande qualidade, harmoniosamente ricas, estruturalmente inventivas e com temas inéditos. Os anos de ouro da sua carreira começaram em 1783, com a nomeação de Pleyel para maestro assistente em Estrasburgo. Organizou e realizou uma série de concertos públicos em colaboração com o mestre de capela, e em 1789 tornou-se ele próprio maestro da Catedral de Estrasburgo.

Com a confusão perigosa da Revolução Francesa, aceitou em 1791 um convite para dirigir concertos em Londres, a competir com Haydn. Foi uma temporada de sucesso "prodigioso", o duelo professor-aluno era célebre na Europa. Ficou lá de Dezembro de 1791 até Maio de 1792, e no regresso a Estrasburgo foi interrogado e preso como Realista; safou-se escrevendo, sob a ameaça dos guardas franceses, obras como um "Hino à Liberdade" de exaltação revolucionária, e mostrando-se convertido aos ideias maçónicos e republicanos.

Expulso de Estrasburgo, regressou de vez a Paris em 1795, onde abriu a Maison Pleyel, loja e editora musical, uma fábrica de pianos, e fez ainda construir a Salle Pleyel. Como editor, publicou obras de  Boccherini, Beethoven, Clementi, Hummel e Haydn, entre outros. Por essa altura deixou de compôr música, mas a sua obra já era enorme - concertos, sinfonias (47) , um Requiem, óperas, música de câmara. Hoje quase toda esquecida mesmo em França.


Os Concertos para Clarinete e a Sinfonia Concertante para dois clarinetes são particularmente engenhosos, plenos de virtuosismo instrumental, bons exemplos do talento de Pleyel.

O primeiro andamento do Concerto Nº1 (Allegro) , o mais mozartiano.
Paul Meyer (clarinete) com a Franz Liszt Chamber Orchestra.



Estes solos de clarinete !! Muito bom !

Do mesmo concerto, o envolvente Adagio.


Concerto para Clarinete No.2 - III.Rondo
De novo Paul Meyer com a Franz Liszt Chamber Orchestra.




O único CD que conheço, de medíocre qualidade sonora (CPO, 2007), vale pelo magnífico solista Dieter Klöcker:


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