segunda-feira, 7 de novembro de 2016

As democraduras, invenção de fim-de-século consolidada no século XXI


Democradura, palavra inventada pelo escritor uruguaio Eduardo Galeano e também título de um livro:
La Democrature: Dictature camouflée, Démocratie truquée
Max Liniger-Goumaz

Sim, sim, vai-se a eleições aparentemente livres, há partidos e tudo; mas só um tem possibilidade de vencer, e depois tenta eternizar-se no poder e dominar todos os meios produtivos e informativos. Exemplo: um recente estudo sobre liberdade informativa põe a Turquia de rastos; depois do golpe, a entourage de Erdogan tudo controla, tudo corrompe, trata qualquer oposição com violência, ódio, desprezo.

Mas assim é também no Congo de Kabila, na Angola de Eduardo dos Santos,  na Rússia de Medelev/Putin, assim na Bolívia de Morales, na Cuba dos Castros, assim na Venezuela de Chávez/Maduro, e vários da Ásia central (Cazaquistão,...) e do Sul. Até o Irão embarca na imagem de democradura, com eleições, mas esse ainda é medieval, cultiva o atraso com afinco.

Às antigas ditaduras militares golpistas sucederam as democraduras civis legitimadas pelo voto. À "ameça comunista" ou à "ameaça fascista" que justificavam as ditaduras, sucedem as teorias da conspiração: existe um complot, um eixo do mal, uma conspiração enfim, venha ela de Madrid, Washington, Miami, Londres, Adis Abeba, Moscovo, União Europeia ou até Lisboa. Daí a 'suspensão' da democracia.

Na Rússia, Putin sucede a Medvedev sucede a Putin ....Na Bolívia, Evo Morales vai para o quarto mandato sucessivo, tendo para isso alterado a Constituição, modelo adoptado também por Mugabe no Zimbabwe, no poder há 36 anos por via eleitoral, ou Nazarbayev no Cazaquiatão há 18 anos, e por quase toda a Ásia central onde as ditaduras se procuram disfarçar (mal). "Que é que querem mais? Fomos a votos, ganhamos." E viva o fingimento, o verbo actual é 'fingir'.

Era preciso que a UN / ONU definisse democracia e ditadura, tornasse claro quem está em regime de liberdade autêntica e quem em regime de semi-liberdade condicionada. Liberdade não é beber coca-cola ou usar mini-saia, ter carro ou conseguir passar nos jornais (porque os jornais já são semi-livres, condicionados); nem sequer basta ter acesso às necessidades básicas, saúde e escola. Urge definir democracia como o regime onde há liberdade e impunidade de denunciar, sobretudo de denunciar abusos de poder.

Lista de Democraduras (provisória - aceitam-se sugestões):

Angola, Bolívia, Cazaquistão, Congo, Cuba, Rússia, Turquia, Venezuela, Zimbabwe.


Não incluí as pseudo-democracias islâmicas, que cumprem 'tudo' (!) menos a igualdade de direitos de género e de etnia, os direitos sindicais, a liberdade de vestuário... nem incluí a democracia indiana com as suas castas... nem os países sob ameaça bélica, de democracia semi-suspensa, como Ucrânia ou Arménia...

Outra lista é a das ditaduras puras e duras. Essa parece agora mais curta: Coreia do Norte e China e alguns africanos. Triste consolo.

Ah Europa, por mais mal que de ti digam, que luminoso oásis ! Não é uma organização deficiente nem líderes fracos que fazem uma democracia sadia, mas que diferença mesmo assim, és o modelo, o 'standard', para avaliar outros regimes. E que luminosa a tua extensão aos antípodas.
'Euro-Oceanic Democratic Community'


Amaldiçoados sejam pois os que nos querem fora da Europa.

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