sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Programações: Casa da Música vs. Auditório Príncipe Filipe de Oviedo


É "bater no ceguinho", eu sei, mas só mais uma vez. Um pouco de azedume para temperar a quadra da boa vontade.
Oviedo não é o Porto, e o Auditório Príncipe Filipe (muito muito feio, por acaso, alguém ouviu falar dele ?) não é a Casa da Música.

Feio por fora...

...mais bonito por dentro. Veio substituir o Teatro Campoamor, de fraca acústica para concertos.

Mas o que é que o APF oferece aos asturianos - e já agora, a mim que moro a 4 horas de viagem ?

Vejamos: ao melhor que a Casa da Música terá (Sokolov), adiciona-se muito mais que a CdM não tem ! No ano supostamente Inglês, Oviedo recebe a orquestra Hallé de Manchester - nós não ...

Começo por um cheirinho de 2016: houve
- Mitsuko Uchida, com a Mahler Chamber Orchestra
- Wayne Marshall com a Orquesta Sinfónica da Radio de Colónia
- Fazil Say com a Camerata Salzburg
- Martin Fröst com a Orquesta de Cámara Sueca, dir. Thomas 
  Dausgaard

Só até aqui já vão 4 boas orquestras de fora. Na CdM nem uma só.

- Magdalena Kožená, ena!, com a La Cetra Barockorchester Basel,
  dir. Andrea Marcon (obras de Monteverdi).
- Filarmónica della Scala de Milán, dir. Myung-whun Chung
   (Mahler, Mozart)
- o excelente Dunedín Consort de Edimburgo: Mozart: Vesperae   
  Solennes de Confessore, Requiem.
- Récita com Bryan Terfel

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E então agora para 2017 ?
Depois de Sokolov (Fevereiro) vem Argerich (Março) com a orquestra Kremerata Baltica de Gidon Kremer, e segue-se (!!) Cecilia Bartoli (ac. piano); e depois

Abril
- Coro de Windsbach, Akademie für Alte Musik de Berlín 
   Nuria Rial
   Bach, missa em si menor BWV232
- Orquesta Hallé de Manchester, dir. Mark Elder
   Elgar, Wagner

Maio
BBC Philharmonic Orchestra

Junho,  'Clausura de temporada''
Joyce DiDonato, Il Pomo D'Oro, dir. Maxim Emelyanychev.
'Em guerra e paz': selecção de árias barrocas de Monteverdi, Purcell, Händel, Jommelli, entre outros. Lá estarei (?).

Até a Joyce !! Nem à Gulbenkian ela vai ! Em Junho, espero conseguir viajar para as Astúrias ...

Em resumo: numa pequena cidade regional como Oviedo, a programação inclui orquestras europeias e grandes solistas, ao nível da programação de Lisboa, nossa capital. No Porto, com a 'grandiosa', 'mundialmente famosa', 'icónica' Casa da Música, (quase) só temos direito à orquestra e prata da casa, e uma programação débil. Apetece-me dizer, por uma vez, perdoem o desabafo: grande merda.

A casa só tem fachada.
Porque não aproveita ao menos as tournées que passam por perto ?

E acresce que o Teatro Campoamor, onde se entregam os prémios Príncipe das Astúrias, mantém uma regular temporada de Ópera !! Tivesse Oviedo um bom aeroporto internacional...


4 comentários:

Fanático_Um disse...

É verdade Mário, até Oviedo tem uma temporada de ópera bem melhor que Lisboa, capital de um País europeu!
Pessoalmente invisto sobretudo na ópera e invejo muito as de várias cidades espanholas. Este ano voltarei ao Liceu de Barcelona onde há sempre vários espectáculos de primeira qualidade e, como bem refere, tem um bom aeroporto internacional e, para quem vive em Lisboa, a oferta de voos é muito interessante.

Virginia disse...

É preciso gostar muito de música ao vivo para e deslocar a locais longínquos . Nunca tive paciência para ir a festivais, pois não gosto de música a metro, na realidade sou muito mais de apreciar um Sokolov ou uma Weihnachtsoratorium once in a while. Oiço música em casa, seja pelo Spotify, pelo Mezzo ou em CDs com colunas, oiço música em frente ao mar ou num parque com auriculares, mas já não sinto a febre dos concertos como acontecia na minha adolescência e juventurde. Em Lisboa, em Londres e em Munique ouvi muito - até o Karajan e o Oistrack - o Gino Becki, o Tito Gobbi, a Renata Scotto, Alfredo Kraus, etc. O meu Pai tinha bilhetes de graça para o Coliseu e temporadas Gulbenkian. Morava a dois passos da Gulbenkian e não perdia nenhum concerto realmente bom. Depois de vir para o Porto, só ressuscitei para concertos com a Regie com quem trabalhei na Escola Profissional de Música. Éramos amigos, íamos tomar café depois dos concertos em S. Bento da Vitória. Hoje a CdM diz-me pouco, já não compro bilhetes com antecedência e muitas vezes estão esgotados quando reparo nalgum melhor. Oiço os meus filhos e netos a tocar em casa e acompanho-os em tudo. Nunca fui melómana, nem distingo os performers, embora distinga quase todas as peças clássicas e românticas. Cansa-me estar sentada durante horas a ouvir óperas, ouvi-as todas no Coliseu mal sentada em camarotes. Em Portugal os concertos começam todos muito tarde, o que não acontece em Inglaterra ou Alemanha. A musica ao vivo, seja ela ligeira ou clássica acabou para mim. Não dou dinheiro, nem viajo só para ouvir. Mas gosto de saber.

Mário R. Gonçalves disse...

Fanático_Um, Barcelona é uma cidade de dois milhões , maior que Lisboa, e com apetite cultural que já vem de há muito - Savall, Gaudi e outros museus... Custa-me aceitar é que Valência ou Oviedo consigam boas programações e o Porto não, bastava aproveitar a "boleia" deles. O Porto está ao nível da Coruña, uma pequena cidade regional, mas tem uma sala de concertos caríssima e de fantástica acústica - é só fachada, como já disse, e vai servindo para hip-hop, rap e outras coisas assim. Os programadores são de uma incompetência à prova de bala.

Mário R. Gonçalves disse...

Virgínia, um concerto ao vivo é outra coisa quando os intérpretes são de primeira água. Senão mais vale ficar em casa, de facto. Mas há também a componente "aventura", que me levou à Didonato em Madrid, à Norma em Valência, e agora de novo à Didonato em Oviedo. Em breve já não terei idade para isso, mas enquanto conseguir não desisto. A viagem faz parte do gozo.
Que mais resta, afinal ?